Debruço-me desta vez num dos mais mediáticos países do panorama internacional, a Republica Islâmica do Irão, encarada com uma das mais poderosas ameaças á pacificação mundial. No entanto, e como será perceptível no decorrer deste artigo, esta ameaça acarreta estrondosas e ocultas responsabilidades para os que hoje designam este país desta forma, nomeadamente os Estados Unidos da América.
A data a ter em conta é 19 de Agosto de 1953. Esta data marcou de forma crucial a história do Irão, no qual, EUA e Inglaterra, através de um “ensaiado” Golpe de Estado ajudaram a expulsar a elite nacionalista que governava o país e que via os norte-americanos como seus aliados ideológicos. Mesmo que estas duas últimas palavras possam parecer incompreensíveis, a verdade é que até á data, os norte-americanos eram encarados com grande admiração e respeito, em virtude das inúmeras instituições sociais que ajudaram a criar no país.
Em 1953, o Irão tinha como Primeiro Ministro Mohamed Mossadegh, um homem dotado de uma grande dose de autoconfiança e sentimento nacionalista. Este era muito apoiado pelos iranianos em virtude das suas políticas sociais – defesa da liberdade religiosa, apoio aos direitos das mulheres, construção de habitações sociais, banhos públicos, … Era igualmente conhecido por ser extremamente honesto e impenetrável á corrupção. É eleito pela revista Time como “Homem do Ano” em 1951. Mossadegh sempre lutou pelo direito dos iranianos governarem o seu país em liberdade, sem ingerência externa. Este sempre fora o seu lema, antes e durante o seu mandato como Primeiro Ministro traduzindo-se na prática na libertação da submissão para com a Grã-Bretanaha, proprietária da Anglo-Iranian Oil Company.
(Mohammed Mossadegh)A data a ter em conta é 19 de Agosto de 1953. Esta data marcou de forma crucial a história do Irão, no qual, EUA e Inglaterra, através de um “ensaiado” Golpe de Estado ajudaram a expulsar a elite nacionalista que governava o país e que via os norte-americanos como seus aliados ideológicos. Mesmo que estas duas últimas palavras possam parecer incompreensíveis, a verdade é que até á data, os norte-americanos eram encarados com grande admiração e respeito, em virtude das inúmeras instituições sociais que ajudaram a criar no país.
Em 1953, o Irão tinha como Primeiro Ministro Mohamed Mossadegh, um homem dotado de uma grande dose de autoconfiança e sentimento nacionalista. Este era muito apoiado pelos iranianos em virtude das suas políticas sociais – defesa da liberdade religiosa, apoio aos direitos das mulheres, construção de habitações sociais, banhos públicos, … Era igualmente conhecido por ser extremamente honesto e impenetrável á corrupção. É eleito pela revista Time como “Homem do Ano” em 1951. Mossadegh sempre lutou pelo direito dos iranianos governarem o seu país em liberdade, sem ingerência externa. Este sempre fora o seu lema, antes e durante o seu mandato como Primeiro Ministro traduzindo-se na prática na libertação da submissão para com a Grã-Bretanaha, proprietária da Anglo-Iranian Oil Company.
A AIOC era uma companhia extremamente lucrativa que vendia o seu petróleo dez a trinta vezes mais acima do seu preço de produção. Tal facto tornava-a extremamente odiada no Irão.
Quando Mossadegh se torna Primeiro Ministro em 1951, cumpriu o seu grande objectivo político, a nacionalização da AIOC transformando-a na Iranian Oil Company. Este acontecimento semeou a ira nas hostes inglesas, que, a parir de então, tomaram como objectivo fulcral a recuperação da sua concessão petrolífera.
Elaboraram então toda uma estratégia para depor Mossadegh, designada de Operação Bota.
No entanto, precisavam do apoio norte-americano para que a operação não falhasse e não suscitasse qualquer desconfiança. Á data, 1952, era Truman quem ocupava o cargo de Presidente dos EUA, e este sempre se opusera ao uso da força contra o Irão. Temia que qualquer tipo de acção contra este país instigasse outros países do Médio Oriente contra ingleses e americanos. No entanto, esta atitude mudou radicalmente em Novembro de 1952 com a eleição de Dwight Eisenhower.
Por forma a obterem o apoio de que necessitavam, o governo inglês falseou a tese tradicional que constituía no derrube de Mossadegh, dado que este nacionalizara propriedade inglesa, e decidiram antes dar ênfase á ameaça comunista no Irão.
O Irão possuía uma enorme riqueza petrolífera, uma grande proximidade geográfica com a URSS, um Partido Comunista activo e um Primeiro Ministro nacionalista. Os EUA encararam então a possibilidade de o país cair na esfera comunista. Esta tese foi rematada com a subsequente substituição de Mossadegh por um Priemiro Ministro pró-Ocidental. Este remate captou desde logo o interesse de Eisenhower pondo assim em marcha a Operação Ajax.
(Dwight Eisenhower)
A Operação Ajax foi arquitectada, sobretudo pelos EUA e pela Inglaterra, no entanto, o papel principal coube á CIA e a Kermit Roosevelt, que, além de ser neto de Theodore Roosevelt, era o coordenador operacional no terreno. Como é óbvio, e á semelhança de toda esta operação, agia de forma camuflada.
(Kermit Roosevelt)
O plano da Operação Ajax visava uma intensa campanha contra Mossadegh lançada pela CIA, manipulando a opinião pública iraniana, em mesquitas, imprensa e nas ruas. Ao general Zahedi, o homem escolhido para substituir Mossadegh, cabia a função de subornar alguns oficiais e militares de modo a ficarem a postos para qualquer tipo de acção militar caso esta fosse necessária. Nem os deputados do Majlis (Parlamento iraniano) foram descurados, sendo muitos deles igualmente subornados.
Enquanto isso, pagava-se a criminosos para lançarem ataques sobre líderes religiosos de modo a parecerem ter sido ordenados por Mossadegh – conhecido pelo seu secularismo.
Em meados de Agosto de 1953, Kermit Roosevelt e os seus agentes iranianos encontravam-se prontos para entrar em acção. Juntos, tinham conduzido o Irão á beira do caos. Jornais e líderes religiosos clamavam pela cabeça de Mossadegh. As ruas de Teerão eram autênticos campos de batalha organizados pela CIA.
(Winston Churchill)
A data inicial do golpe era 15 de Agosto, no entanto, uma fuga de informação levou ao falhanço da operação. Foi então a 19 de Agosto, apenas 4 dias depois, que esta armadilha política alcançou os seus objectivos. Mossadegh foi então preso (condenado a 3 anos de prisão seguido de um encarceramento em prisão domiciliária até 5 de Março de 1967, data da sua morte) e substituído por Tazlollah Zahedi através de um firmão (decreto) emitido pelo Xá Mohammed Rezza Pahlavi, também ele alvo de suborno por parte de K. Roosevelt. Este último contava com o grande respeito que os iranianos detinham pelo poder real, uma tradição antiga, para que não questionassem a legalidade de tal documento.
A Operação Ajax foi assim o primeiro passo em direcção á catástrofe iraniana de 1979. Tanto ingleses com americanos não previram que o Xá reunisse tanta força e que a usasse de forma tão tirana, nem que falhassem na tentativa de o obrigarem a seguir um rumo razoável.
Durante 26 anos o Irão viveu um regime ditatorial. O autoritarismo do Xá virou o povo contra ele, culminando na sua revolta em 1979 conduzida por fundamentalistas.
Esta revolução vinha a ser “cozinhada” desde a segunda metade da década de 60 pela voz do Ayatollah Ruhollah Khomeini. Este, enquanto jovem, sempre se opusera a Mossadegh que defendia a liberdade religiosa. Com um regime ditatorial e corrupto protagonizado pelo Xá Rezza, Khomeini, que fora enviado para o exílio por este em 1964, continuou daí o seu discurso fundamentalista que alcançou êxito através da Revolução Islâmica de 1979 transformando o Irão numa Republica Popular Teocrática Islâmica sob o comando de Khomeini, sendo o Xá enviado para o exílio.
O regime islâmico fundamentalista que Khomeini consolidou na década de 80 transformou o Irão num centro de propaganda do terror no estrangeiro através do financiamento de grupos terroristas como o Hamas, Hezbollah, milícias iraquianas e outros.
Por forma a justificar o poder radical do seu regime, Khomeini disse um dia: “Nós não somos liberais como Mossadegh ou Allende que a CIA pode manipular.”
(Xá Rezza Pahlavi)
Posteriormente, a CIA lançou-se em majestosas operações para depôr governos em vários países cujos governos e líderes não se enquadravam nos padrões norte-americanos. Foi o caso de Salvador Allende no Chile em 1973. Este foi derrubado do poder através de um Golpe de Estado conduzido pelas Forças Armadas chefiadas por Augusto Pinochet, fortemente apoiado pelos EUA. Tal golpe, além de derrubar um homem nacionalista e democraticamente eleito, conduziu o Chile a um dos mais desumanos regimes da História, protagonizado por Pinochet.
No entanto, Chile e Irão não são casos únicos nestas megas operações “reparadoras” levadas a cabo pelos sucessivos governos norte-americanos. Cuba foi, durante cerca de duas décadas, governada por Fulgêncio Batista, um homem que conduziu o país de forma ditatorial e corrupta sob o olhar passivo do governo americano. Este regime atroz, levou, á semelhança do ocorrido alguns anos depois, a uma revolução chefiada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, tornando-se Cuba um país aliado da URSS (numa época de bipolarismo mundial).
Como é notório, este tipo de operações e apoios teve e tem (Iraque) efeitos profundos e devastadores (miséria, Guerras Civis, conflitos religiosos, étnicos, etc.) voltando assim vastas regiões do globo contra o imperialismo norte-americano.
É assim possível concluir que os governos mais poderosos do mundo estão dispostos a tolerar regimes opressivos, desde que estes sejam amigáveis para com o Ocidente. Há no entanto que ter em linha de conta que muitas destas operações encarnam na perfeição esta expressão, com a qual remato o meu artigo, o feitiço pode de um momento para o outro virar-se contra o feiticeiro.”
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