04 agosto, 2008

O Conflito Israelo-Palestiniano - Prólogo

Trabalho realizado por:
Joana Gonçalves
Milene Batista
Sofia Alves
Sofia Silva
Tiago Maurício


O presente trabalho, intitulado “O Conflito Israelo-Palestiniano: uma guerra recente numa longa história”, foi realizado no âmbito da disciplina de Estratégia e Relações de Poder e tentará reunir de forma sistemática relatos de acontecimentos, análises reflexivas e avançar com conclusões sobre os principais elementos que constituem este conflito de tão difícil interpretação. Com efeito, uma das principais dificuldades com que nos deparámos, enquanto grupo, foi o de harmonizar um conjunto muito diversificado de informações, teorias e modelos explicativos de um história por demais conhecida, e dessa miscigenação extrair uma reflexão cuidada e integrada num trabalho que se pretende holístico.

Assim sendo, procurou-se analisar os grandes elementos históricos das facções envolvidas, desde os seus fundamentos histórico-sociológicos, económicos, políticos, religiosos e conjunturais, até à forma como desembocaram numa aparente eternização de uma guerra fratricida que, numa área geográfica tão reduzida, consegue produzir eventos de tão grande envergadura. No entanto, será igualmente importante estudarmos as relações de poder que levaram à formação do Estado de Israel, causa primeira de todo o conflito, e inseri-lo num movimento mais alargado o qual designamos por descolonização. Neste sentido, a colonização britânica, como antecessora directa da governação na região, será digna de reflexão cuidada, até porque foi sob o seu mandato que resultou a declaração unilateral de independência israelita.

Como se trata de uma disciplina inserida no curricula da licenciatura de Relações Internacionais, será ainda da maior importância interpretar as principais linhas de força coincidentes na questão designada sionista e/ou israelita, e acompanhá-la ao longo de todo o desenvolvimento do conflito para o qual muitos adivinham a sua perpetuação. Ademais, sendo um conflito que moldou e continua a moldar um processo de formação de dois Estados-nação diametralmente opostos, mas incontornavelmente com alguns pontos coincidentes, importa recuarmos temporalmente até ao período em que essa concepção nacionalista brotou. Mas mais do que uma análise histórico-sociológica, os modernos avanços no conflito, nomeadamente o surgimento de organizações não-estatais a concorrerem com os seus próprios projectos, questionando quer a legitimidade do Estado israelita quer o respeito por Acordos internacionais, cada qual sugerindo as suas delimitações fronteiriças, tudo veio contribuir para um exacerbar das tensões existentes, assim como catalisar os efeitos subsequentes. Desde a crescente militarização das tropas Israelitas até ao seu programa nuclear clandestino, passando pelo financiamento soviético aos movimentos subversivos palestinianos, e mais recentemente do Irão, tudo aponta para a continuação desta lógica conflitual para o próximo quarto de século.

Como fica patente de tudo referido supra, a multiplicidade de factores convergentes e divergentes sobre um mesmo objecto de estudo, multifacetado por natureza, será a principal tónica deste trabalho, assim como será duplamente relevante a sua eficaz observância e resolução. Partindo de uma neutralidade analítica, tanto quanto desejável real, mesmo que indelevelmente distorcida por algumas opiniões pré-conceptualizadas, mais que preconceituosas, criticaremos o ethos das partes envolvidas em períodos chave que determinam de forma inexorável a evolução do conflito. Acreditando que nunca o resultado estava pré-determinado, à maneira dos construtivistas sociais, tomaremos então como prioridade o elenco de decisões e condições que, em conjunto, influíram na criação de certas situações, elas próprias motivadoras de mais decisões necessariamente sob outras condições.

Para concluir, será com estas luzes que avançaremos para o trabalho. No final avaliaremos o sucesso destes objectivos.

O Conflito Israelo-Palestiniano - Introdução

Evidenciadas as principais directrizes que animarão este trabalho, é agora tempo de identificarmos os principais tópicos que nos guiarão no estudo do Conflito Israelo-Palestiniano. Decidimos organizar a exposição da seguinte forma:


Uma terra de estrangeiros e palestinianos
Compreende todo o período anterior a 1948, e aborda as principais tendências sócio-económicas e políticas patentes no território desde a Guerra da Crimeia, evento que marcou decisivamente a abertura do Império Otomano à influência europeia, não só em termos comerciais, mas também no conjunto de reformas políticas que permitiram uma maior participação das comunidades cristãs aí existentes, e acolhimento de outras comunidades europeias no território.

A fundação do Estado de Israel
De inquestionável importância, a fundação do Estado de Israel no ano de 1948 surgiu como um resultado já previsto e de certa forma planeado, e cujas origens podemos traçá-las à Declaração Balfour de 1917. Esta declaração, que tira o nome ao então Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido – Arthur James Balfour –, ela admitia a possibilidade de uma independência política do território da Palestina face à potência administrativa – o próprio Reino Unido. É então que começam os primeiros grandes comícios internacionais a favor da causa sionista.

A guerra pela independência
Seguindo-se um período de afirmação do novo Estado perante a comunidade palestiniana, apoiada por diversos grupos árabes da região, os primeiros anos de existência de Israel foram férteis em conflitos armados que desde então pautaram grande parte da política externa israelita. Desta forma, é crucial o desempenho nesta primeira prova de forças, pois seria interpretada como um teste à resistência, força, e alianças externas favoráveis a Telavive.

O problema do reconhecimento internacional
Como a qualquer entidade política recém formada, o problema do reconhecimento internacional do Estado de Israel surge como prioritária na definição da sua agenda de política externa. Num período particularmente conturbado, com a Guerra-Fria a assumir-se como uma força política que hostilizaria a sociedade internacional em dois blocos antagónicos, o jogo de forças a desempenhar por Israel numa região como o Médio Oriente afigurou-se pertinente aos mais variados níveis, dos quais ressaltamos as Nações Unidas. Assim sendo, neste capítulo faremos uma breve análise conjuntural dos vários problemas que as novas lideranças em Israel enfrentavam após a vitória militar em 1949.

A Crise do Suez
O Egipto, como teremos a oportunidade de observar, constitui um importante actor regional no Médio Oriente. A certa altura governado por um líder que detinha simultaneamente o poder na Síria, desenvolveu-se um interessante eixo dinâmico entre Damasco, Telavive e Cairo. Consequentemente, será da maior importância analisarmos a importância geopolítica deste conflito, assim como o papel que as grandes potências da época tiveram na sua resolução, pois envolveu uma multiplicidade de factores que ultrapassavam o simples combate a Israel.

A Guerra dos Seis Dias
Com este conflito relâmpago, a superioridade militar e a persistência Israelita em fazer frente a todos os inimigos, reais ou potenciais, era reiterada perante a inércia da sociedade internacional e incapacidade da Liga Árabe.

A Guerra Yom Kippur
Durante o feriado religioso, uma coligação liderada pelo Egipto e pela Síria decide alancar um derradeiro ataque sobre Israel, pretendendo a sua total destruição por um ataque proveniente de todas as direcções, o qual as forças armadas sionistas conseguiram ultrapassar com relativa facilidade, não obstante os significativos avanços árabes.

Os Acordos de Camp David
Após o conflito, a administração norte-americana logo percebeu que não mais se poderia abstrair de um diálogo alargado aos restantes países vizinhos a Israel, e que para vingar alguma estabilidade na região, eram necessários compromissos que assegurassem de certa forma um controlo das partes envolvidas. Reduzindo substancialmente o espectro da ameaça a actividades terroristas patrocinadas por algumas facções políticas, o Acordo de Camp David simbolizou um novo período no relacionamento entre os EUA e Israel, um que viria a observar a adição de novos capítulos à medida que novas problemáticas e novas conjunturas emergiam.

A Guerra do Líbano
Mais uma guerra no serial Israelita, esta teve a particularidade de mesclar elementos de guerra inter-estatal com dinâmicas de conflito de baixa intensidade com o objectivo de “desminar” o terreno alheio por elementos da OLP que, a partir de Damasco, organizavam as suas incursões sobre a fronteira Norte de Israel, com o apoio Sírio e Iraniano.

Início da I Intifada
As Intifadas representam períodos de especial conflitualidade entre os partidários da OLP contra os “ocupantes” Israelitas. Através de uma mobilização generalizada da população palestiniana, estes conflitos de baixa intensidade mas de grande transtorno político e social, é responsável por algumas das maiores atrocidades que incutiram uma maior hostilidade entre os beligerantes. Por sucessivas demonstrações de força, quer palestinianos quer Israelitas avançam irredutivelmente em direcção a limites de convivência que comovem e atraem a atenção de toda a comunidade internacional.

A Conferência de Paz de Madrid
Sendo as primeiras negociações bilaterais com os mais altos dignitários das partes envolvidas no Conflito Israelo-Palestiniano, estas conferências foram organizadas pelo governo espanhol sob o patrocínio quer dos EUA quer da URSS. Convocando também participantes egípcios, sírios e jordanos, as mesmas consagraram um certo modus operandi que viria a caracterizar as negociações de Oslo, poucos anos depois.

Os Acordos de Oslo
Estes acordos são tidos como o evento no qual a facção palestiniana reconheceu tacitamente o direito de Israel a existir. Com a presença de Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, juntamente com Bill Clinton e um representante da Rússia, é nestes acordos que se baseiam as actuais negociações para um cessar-fogo e projecto de resolução do conflito israelo-palestiniano.

A II Intifada
Com início no ano 2000 com o célebre massacre de 29 de Setembro, marca o recomeço de um novo período de violência que varre as ruas de Israel e da Palestina, numa época em que a agenda da comunidade internacional afasta-se definitivamente desta problemática em prol da Guerra ao Terrorismo. As negociações internacionalmente patrocinadas não surtem, pois, qualquer tipo de efeito.

As Organizações envolvidas no conflito
Neste capítulo far-se-á uma análise das principais organizações que actuam ou actuaram num qualquer momento temporal no Conflito Israelo-Palestiniano. Desde a OLP ao Hamas, passando pelo Hezbollah e Al-Fatah, serão enunciados todos os grupos cujas actividades e influência foi, de certa forma, determinante no evoluir dos acontecimentos referidos ao longo deste trabalho.

Os Estados Unidos da América no Conflito Israelo-Palestiniano
Como não poderia deixar de ser, será relevante de mencionar a influência que quer os EUA quer a URSS, embora com gradações e níveis de compromisso com as partes envolvidas, tiveram estas duas superpotências que dominaram o período da Guerra-Fria. Exercendo o duopólio do poder internacional, o Conflito teve pois as suas imediatas ou mediatas interferências no jogo entre “os Grandes”.

Conclusão
Por último, faremos as devidas contemplações àquelas que são as actuais reivindicações por parte dos palestinianos e as respostas que encontram junto dos israelitas. Abstendo-nos de profetizar qualquer “roteiro para a paz”, assumiremos tão só que qualquer negociação com vista à resolução do conflito terá necessariamente que lidar com estas reivindicações.

O Conflito Israelo-Palestiniano - Uma Terra de Estrangeiros e Palestinianos

O passado e a memória histórica que mais directamente poderemos indexar às actuais problemáticas que compõem o rol de quasi insofismáveis marasmos partilhados entre os povos israelita e palestiniano reporta-nos à Guerra da Crimeia 1853-56. Aliás, como defende Ilan Pappe, a dicotomia entre as imagens de um futuro moderno mas conturbado por oposição a um passado conservador mas pacífico, que pauta aliás o comportamento e valores da comunidade palestiniana, é originária dos preceitos do acordo de paz celebrado entre o Império Otomano, que procurava assegurar as suas fronteiras nos Balcãs face à derrota russa czarista e ao tímido expansionismo austro-húngaro, e a Grã-Bretanha, cuja vitória no Mar Negro lhe assegurava a livre navegabilidade e “amigabilidade” no Mediterrâneo – eixo fundamental no comércio Oriente-Ocidente.

No entanto, antes de avançarmos com o significado e consequências do pedido em causa, importa recuarmos um pouco no tempo para auscultarmos as origens muitas vezes esquecidas, ou secundarizadas sobre este que foi o evento que representou um ponto de inflexão nas relações internacionais do século XIX. Na Terra Prometida da Palestina/Israel, habitavam aí diversos centros nevrálgicos das três grandes religiões monoteísticas: o Islão, Cristianismo e Judaísmo. Objecto de cobiças, fortunas, ambições e poderes, o domínio das cidades santas nessa região, nomeadamente Jerusalém, sempre sofreram com as consequências de numerosas guerras que remontam à própria expansão do império romano no Próximo Oriente.


Os últimos redutos das Cruzadas

Foi com o surgimento e crescimento do Islão, e constituição do Império Otomano e seus califados que toda a região caiu sob a esfera de influência de Constantinopla, conquistada em 1453. Contudo, a presença de fiéis cristãos, sobretudo católicos, e de judeus constituía um último reduto à presença estrangeira nesse território sagrado, e com uma convivência relativamente pacífica e tolerada, segundo padrões da época. Foi nesse espírito que foram realizadas as famosas Cruzadas cujo objectivo último seria a formação de um reino cristão na Palestina. Apesar do admirável e utópico esforço, tal não ficou tão longe de acontecer, pois os famosos templários chegaram a constituir diversos reinos situados entre Jerusalém conquistada e outros territórios no Norte, sem contudo atacarem efectivamente a origem das sucessivas vagas de combatentes islâmicos na Arábia e Norte de África. Por alturas do século XIV, o jugo muçulmano era absoluto.

Mas conforme avançávamos, as populações cristãs aí residentes apresentavam-se como leitmotivs para redobradas investidas sobre o Império Otomano quando qualquer um dos reinos cristãos da Europa, especialmente aqueles a ele adjacente, se encontravam numa situação de preponderância face ao adversário. Foi o que aconteceu com o Império Austríaco nos séculos XVIII e XIX, e Império Russo especialmente no século XIX. Ambos visavam adquirir uma posição estratégica de vantagem sobre o Império Otomano e sobre o opositor cristão, e a situação atingiu níveis de tensão que acabaram por resultar num conflito armado. Pretendendo proteger os povos cristãos do “opressor” otomano, a França de Napoleão III, ambicionando simultaneamente agradar ao Papa para legitimar as suas pretensões sob os reinos da Itália do Norte contra os do Império Austro-Húngaro, pede ao Sultão a atribuição do título de Protector dos Cristãos no território da Palestina, título esse atribuído tradicionalmente ao czar da Rússia.

Tratando-se de uma questão maior do que meramente semântica ou nobiliária, o czar Nicolau I alerta o Sultão para as possíveis consequências de alterar subitamente a sua histórica posição frente às suas populações cristãs caso o título fosse simultaneamente atribuído a um governador recentemente eleito de um país cuja participação na defesa dos interesses cristãos na região era ausente de qualquer menção digna de registo. Mais, a atribuição de tal título significaria o reconhecimento por parte do Sultão de um afastamento das relações em eixo Império Otomano-Rússia. Isto era perigoso por três razões: considerando os mútuos interesses na região dos Balcãs, o diferendo poderia suscitar controvérsias nas populações de múltipla etnia e religião nos Balcãs, região onde ambos tinham interesses; poder-se-ia agudizar da situação na Ásia Central que já antevia uma guerra aberta entre os dois países em relação à delimitação de territórios; e finalmente, à escalada conflitual com formação de alianças para o controlo dos Estreitos do Bósforo e Dardanelos, pontos estratégicos para o acesso do Mar Negro ao Mediterrâneo.

A resposta do Sultão teria, pois, que ser cautelosa caso pretendesse manter o status quo que, à altura e perante as conturbações internas que começavam a surgir, até poderia ser proveitoso para o Império Otomano. Não obstante, a História reza outra história.


O eclodir da Guerra

A Guerra da Crimeia foi um conflito armado que opôs numa primeira fase o Império Otomano e o Império Russo no Mar Negro e na Península Balcânica, tradicional foco de conflito entre as civilizações islâmica turcomana, ortodoxa eslava e protestante germânica, como ensinou Samuel P. Huntington no seu Choque de Civilizações. No Império Otomano oitocentista, as poucas comunidades cristãs que persistiam no seu credo e práticas, sobretudo nas cidades de Jerusalém, Haifa, Jaffa e Tabriz, constituíam um importante embora reduzido baluarte na retaguarda otomana em relação à influência e relações com a Europa. Representando uma minoria com um relevante desempenho económico, essencialmente nas áreas do comércio de manufactura artesanal e produtos agrícolas, esta comunidade cristã exercia funções de relativa abertura entre as cidades europeias em franca prosperidade e o Próximo Oriente em evidente declínio.

Neste âmbito, a estes elementos de abertura e cooperação opunham-se outros de conflito e tensão. Com efeito, o fim das invasões napoleónicas trouxera à Rússia de Alexandre I um invulgar período de estabilidade. A participação nas várias coligações anti-napoleónicas, nas quais a Prússia, o Império Austríaco e a Grã-Bretanha também participaram, juntamente com Portugal, permitiu-lhe iniciar aquilo que seria o seu projecto imperial, não colonial ultramarino mas expansionista continental em direcção à Sibéria e ao Pacífico. No entanto, este projecto admitia como realidade incontornável o conflito com o Império Otomano, cujas fronteiras alargavam-se até à Ásia Central. Assim, e negociadas algumas condições para a manutenção da presença turcomana na região carpática, a superioridade russa logrou um armistício que lhe reconhecia a suserana protecção sobre todos os cristãos da Palestina, ao que aos títulos nobiliários dos czares Romano seguir-se-ia a designação de Protector dos Cristãos.

Ao pedido endereçado ao Sultão turco, Napoleão III teve uma resposta afirmativa para contestação do czar Nicolau I. Em vésperas de confronto directo entre a França e a Rússia, subsequentes à diminuição do diálogo diplomático e preparação de tropas junto das respectivas fronteiras na Europa Central, o Império Austro-Húngaro promove ainda a adopção de uma medida conjunta para partilha do título entre os dois líderes, ao que a Rússia declina.

Assim sendo, Nicolau I decide avançar rumo à Valáquia e Moldávia, junto ao Mar Negro, por forma a conquistar território ao Império Otomano e ameaçar as forças austro-húngaras na região dos Balcãs. No entanto, não devemos entender este avanço como uma investida militar per se, antes uma manobra premeditadamente encetada para medir a eficiência e capacidade de resposta dos grandes intervenientes europeus em relação ao um expansionismo russo. Devemos acrescentar ainda que Nicolau I, nas vésperas da guerra, dirigiu-se à Grã-Bretanha para dialogar com o seu homólogo com vista a ajustarem-se políticas externas relativas a várias matérias, entre as quais os planos imperialistas de Napoleão III, os expansionismos para África e a questão dos Balcãs. Neste convénio, o representante da Grã-Bretanha tinha erroneamente deixado transparecer perante Nicolau I a ideia de que Londres não reagiria a uma investida russa contra o Império Otomano.


Avanços e recúos

Num erro cujas consequências poderiam ser sido multiplicadas por várias vezes, a Rússia interpreta a conjuntura como favorável ao seu avanço contra o domínio Austro-Húngaro e Otomano numa região onde pretendia projectar os seus intentos pan-eslavistas, e assim reclamar para si própria um acesso directo e privilegiado ao Mar Mediterrâneo e àquela que era a principal rota comercial do mundo, a ligação da Índia e Oriente à Europa.

No entanto, perante os avanços russos, tanto a Grã-Bretanha como a França fazem enviar as suas frotas do Mediterrâneo para os estreitos já referidos, com a missão de observação das manobras militares aí em curso. Face aos surdos apelos por parte da Áustria-Hungria, a Rússia decide então enveredar por um golpe decisor que destrói a frota naval otomana por completo na famosa Batalha de Sinope em Novembro de 1853. Esta súbita alteração na balança de poderes requereu a imediata intervenção por parte de Londres e Paris ao lado do Império Otomano, coligação à qual se juntou finalmente o Império Austro-Húngaro, perante a oportunidade de consolidar o seu domínio nos Balcãs e partilhar dos despojos dos vencedores.

No ano de 1854 começou o cerco à cidade russa de Sebastopol, cerco esse que durou até a meados do ano seguinte, durante o qual a frota russa para o Mar Negro foi completamente aniquilada pela superioridade das forças navais da coligação anglo-franco-otomana. Daí até à paz obtida em 1856 foi um ápice, com um resultado desfavorável a Nicolau I, com a Rússia a capitular.


As consequências na sociedade internacional

Desta guerra ressaltam importantes conclusões:

1) a Rússia vê impedido o seu acesso às águas do Mediterrâneo e às rotas comerciais sob o domínio britânico, condenando assim o seu crescimento económico e ascensão do seu peso político, económico e militar na Europa;
2) a Áustria-Hungria adia a bomba dos Balcãs, absorvendo os etno-nacionalismos e religião numa amálgama parcamente organizada e efectivamente dominada e controlada;
3) a Inglaterra reforça o seu domínio no Mediterrâneo, desta vez com a frota otomana igualmente aniquilada, sem uma ameaça russa, e com uma clara superioridade perante a França e Áustria-Hungria;
4) a França ganha protagonismo na cena internacional, com Napoleão III a sair vitorioso da sua primeira prova-de-fogo frente aos grandes intervenientes do sistema europeu, protagonismo aliás que lhe vai alimentar o ego pelas décadas seguintes;
5) a Santa Aliança é dissolvida, fazendo mergulhar a Europa num novo período de indecisão e de realinhamento de interesses e alianças perante novas ameaças.


A paz do Congresso de Paris de 1858

O armistício de Paris, como tínhamos dito anteriormente, constitui o momento de inflexão do regime político otomano. Embora conseguisse ver reconhecidas as suas fronteiras por parte das grandes potências europeias, e expelida a presença russa a Oeste do Danúbio, o Sultão foi obrigado a mostrar garantias de melhoria no tratamento e condição dos cidadãos cristãos no seu império, especialmente aqueles vivendo na Palestina. Procedeu-se então à abertura da primeira fractura que viria mais tarde a alargar-se e condenar todo o domínio turcomano na região.

De facto, o território da Palestina sempre fora administrativamente dividida entre as províncias de Beirute e Damasco, situadas a Norte de Jerusalém. Situada num centro periférico ao poder de Constantinopla, a governação dessas províncias era por vezes tida como uma região de amortecimento aos vários grupos étnicos e religiosos que ambicionam uma maior preponderância na condução das políticas do império. Salvaguardando-se dessas pretensões, os vários sultões turcomanos decretavam o envio de membros recentes da classe política, quer provenientes de famílias nobres guerreiras ou educadas nas escolas religiosas, estes territórios periféricos mostravam-se particularmente úteis para demonstrar a capacidade administrativa de jovens líderes. No entanto, a convivência com líderes aposentados que procuravam regiões menos trauteantes do império onde preparar o final de carreira e subsequente reforma, na Palestina habitavam duas realidades políticas distintas onde se partilhava uma busca por reformas audazes contrastadas por uma governação conservadora e tradicionalista.

Face a uma população sobretudo campestre e pequeno burguesa ligada ao comércio e ao cultivo da terra, os afazeres dos grandes centros urbanos passavam muitas vezes despercebidos nos curtos passos da História. Era frequente, pois, que governantes de cidades longínquas e sem comungarem das características culturais e étnicas dos povos autóctones fossem responsáveis pela boa conduta e manutenção da paz e da ordem nas poucas cidades palestinianas da época.

Nesse sentido, observamos uma completa ausência de uma politização do sentimento de pertença a uma comunidade sociológica inserida num contexto geográfico determinado, com uma percepção de uma história partilhada e de um sonho de futuro, conforme hoje classificaríamos uma Nação. Não é de admirar, portanto, que as sucessivas governações debaixo de vários líderes estrangeiros ou extra-comunitários fosse interpretado como uma ocupação territorial por substituição de regime político.

Assim sendo, com o advento da Guerra da Crimeia e a abertura de toda a sociedade otomana à influência europeia, primariamente veiculada pelo súbito influxo de relações comerciais, mas acompanhada pela transferência de ideias, conhecimento, padrões culturais, etc., cedo de demarcou o que aconteceu e aconteceria sempre que comunidades diferentes se encontram sob determinados condicionalismos históricos: à boa maneira difusionista, a cultura europeia desde logo assumiu uma preponderância nos vários campos da sociedade otomana, que lhe imprimiu um desenvolvimento a duas velocidades, uma modernista e outra conservadora.


A chegada da modernidade

A chegada da modernidade, como em variadas comunidades europeias, inclusive a portuguesa, trouxe com ela a primeira vaga de industrialização e surgimento de uma pequena economia de serviços, mas também na propagação de um certo ideal de prosperidade e desenvolvimento sócio-económico que incutia nos indivíduos uma percepção mais alargada de comunidade política e de inter-mutualismo que quebrava com as tradicionais lealdades religiosas ou tribais. Numa sociedade em rápida mudança, e pela constante permuta de ideias e conhecimentos, a sociedade palestiniana foi adquirindo ao longo dos finais do século XIX uma maior sensibilidade política que lhe permitia reclamar junto das elites locais uma equidade que antes não existira.

Desde logo, a mundialização da economia palestiniana pós-Crimeia incutiu-lhe uma reestruturação tal que emergiu de uma agricultura subsistência para outra de mercado ainda no decénio de 1860. Para que esta transição ocorresse, foi necessário abolir um sistema que persistia por vários séculos, e que segundo muitos analistas, era o maior impedimento para o desenvolvimento económico da Palestina. Desta forma, o sistema musha` consistia na redistribuição de territórios aráveis por clãs numa base rotativa em determinados períodos de tempo, mas que vinculava a posse desses territórios a um sistema governativo mais ou menos centralizado. Esta redistribuição e possessão era atribuída aos governos locais de Beirute e Damasco, e respeitavam princípios islâmicos de justiça e equidade entre toda a Um`ma. Não obstante, os efeitos eram mais nefastos do que os seus princípios, uma vez que considerável parte da população poupava-se a esforços de desenvolvimento e investimento no pressuposto que outros iriam ganhar com o seu mérito e trabalho. Como tal, persistia um sistema subdesenvolvido e sem perspectivas de melhoramento por iniciativa privada.

Por conseguinte, em 1872 assistimos à primeira grande reorganização territorial da Palestina, retirando-a da alçada de Damasco e atribuindo-lhe uma autonomia política distinta e sedeada em Jerusalém. Assim atribuía-se um maior peso geopolítico que contrastava com a ascensão de movimentos secessionistas patentes na Arábia com os wahhabitas e com a casa de Ali no Egipto. Mais uma vez, este estímulo externo, a somar-se à crescente influência europeia, é um factor decisivo em todo o desenvolvimento da Palestina no final de século XIX seguinte, e inclusive até ao final da Grande Guerra.


O fim de século otomano

O império otomano evidenciava, de 1872 em diante, uma significativa incapacidade em reformar todo o seu sistema imperial. Contando com uma numerosa e inadequada classe governante sedeada em Istambul e longe das várias micro-realidades que salpicavam o decadente império com vários movimentos secessionistas ou de marcada falha de estatização, assistimos em toda a década de 1880 uma procura incessante pela construção de um Estado moderno à maneira europeia.

O modelo francês adquiriu, neste período, uma importância fundamental. Com efeito, uma geração tinha passado desde o fim da Guerra da Crimeia e a influência europeia já tinha penetrado na sociedade palestiniana para além das cidades portuárias e grandes centros comerciais. A própria liderança na capital, consciente das múltiplas vulnerabilidades que enfrentava caso prosseguisse com a política imperial até então adoptada, correria sérios riscos de se desvalorizar em relação aos rivais europeus. Nesta óptica, procurou abolir todos os vestígios de uma herança tribal que tinha pautado a cultura turcomana no seio do império. Desde a substituição de um sistema agrícola musha` até à remoção de privilégios dos ulama, à reorganização territorial e administrativa com subsequente dinamização das potencialidades essencialmente comerciais, até a projectos de planeamento urbano para a Palestina em que acomodava os vários grupos sociais, respeitava agora aos grandes proprietários latifundiários e produtores agrícolas.

Procedeu-se, segundo estes ditames, a uma tentativa de laicização do aparelho estatal otomano em clara desvantagem face aos seus rivais imperiais europeus, que observavam um enorme expansionismo no continente Africano e que ameaçavam a sua integridade territorial no Egipto e Médio Oriente. Nesta desfavorável conjuntura, entende-se portanto o conjunto de reformas administrativas, económicas, políticas e militares que pautaram todo o fim de século otomano.


A Grande Guerra e o fim do império

Com o evidente logro das reformas institucionais e estruturais do império otomano, a chegada do século XX e o exacerbar das tensões internacionais que culminaram no deflagrar da Grande Guerra foram os responsáveis imediatos pelo derrube do império. Com efeito, a verdadeira fase inicial do processo que hoje designamos de conflito israelo-palestiniano tem as suas origens nesta guerra mundial.

Face à emergência e influência do movimento sionista, que teremos a oportunidade de explanar no próximo capítulo, o Reino Unido pela pessoa do Ministro dos Negócios Estrangeiros James Arthus Balfour faz emitir, endereçado ao Lord Rotschild, uma declaração em que manifestava o total apoio do governo de Sua Majestade à criação de um Estado para todo o povo judeu em Diáspora no mundo. Lord Rotschild, um eminente banqueiro e figura proeminente entre a facção Liberal de Inglaterra, comungava de um leque variado de contactos dentro do governo britânico e, paralelamente, era uma voz activa dentro da comunidade sionista. A declaração Balfour, nome pela qual ficou conhecida, surgia numa altura em que alguns movimentos independentistas começavam a surgir na região da Palestina onde o império otomano falhava em assegurar a paz pública e a lealdade a Istambul. Por conseguinte, a promessa de um apoio à causa sionista, desde que não envolvesse a violação dos direitos das comunidades não-judaicas aí residentes, era um manifesto voto de confiança e atractivo perante a comunidade judaica que prestaria um valioso contributo na última fase da I Guerra Mundial. Constituída por uma poderosa comunidade económica, com ênfase para a influência na banca e na gestão de grandes empresas exportadoras e importadoras de commodities, os membros da comunidade sionista começavam então a fazer valer essa alavancagem e a projectar junto do Reino Unido o seu projecto autónomo.

Contudo, e como em períodos conturbados tomam-se decisões necessárias, não necessariamente e moralmente adequadas, com a vitória dos Aliados e desmembramento dos impérios centrais, é através da figura da Sociedade das Nações, criada em 1919, que o Reino Unido é votado a potência mandatária para a região. Começava então uma nova frente de batalha que impelia a criação de um Estado que albergasse a comunidade judaica dispersa, e que simultaneamente observasse o bem-estar e respeito das comunidades autóctones. No entanto, com o desmembrar do império otomano e formação de unidades políticas independentes por todo o seu território, seria francamente difícil levar por diante essa primeira promessa e segui-la com o necessário zelo e celeridade que aproveitasse o vazio de poder otomano. Assim permitiu-se o surgimento da Sociedade das Nações e a atribuição de um mandato ao Reino Unido que, juntamente com a França, exerceriam o seu domínio sobre novos territórios no chamado Próximo Oriente.

A Declaração Balfour, como se lê de seguida, constitui pois um marco histórico na causa sionista cujas repercussões caracterizariam, mais tarde, um dos novos preceitos da ordem internacional pós-II Guerra Mundial. O interregno observado entre 1917 e 1948 será, pois, por ora analisado.

Declaração Balfour, 1917







A SdN e o Mandato Britânico

Com a chegada do domínio britânico à região sob o mandato atribuído pela Sociedade das Nações, o cenário antevia já algumas mudanças significativas desde a sua ocupação turcomana. Com efeito, as políticas implementadas no final do império otomano, todas coincidentes com a atribuição de uma maior autonomia administrativa, embora sujeita ao poder central de Istambul, visava a articulação das parcelas imperiais segundo uma estratégia delimitada para fazer face aos impérios europeus rivais. Assim, nesta tentativa de modernização, a iniciativa privada com um dos sectores que mais beneficiou desta modernização do Estado otomano, enquanto se procedia simultaneamente à abolição de antigos regimes feudais de predominância das elites religiosas e de um estado de sobrevivência.

O império britânico e sua lógica de dominação imperial mesmo que suavizada perante o olhar da sociedade internacional, foi uma de alguma permissividade face ao status quo então instalado por altura do império otomano pré-Grande Guerra. Com um aproveitamento quase que exclusivamente económico, com a manutenção das elites locais e do respeito pelos preceitos religiosos e consuetudinários, não admira portanto que existem as condições para que os primeiros movimentos independentistas emergissem de uma comunidade palestiniana marcada não só pelos processos de reforma acelerada imprimida na primeira década do século XX, como pela sua subserviência face ao mercado britânico.

Simultaneamente, a Palestina começava a receber com alguma frequência muitas comunidades judaicas provenientes sobretudo da Europa na década de 1920, o que por seu lado forçou uma abertura política que melhor promovesse a coexistência pacífica e manutenção da ordem cívica numa região geograficamente tão limitada. Assim, e sob o aval da SdN, a Grã-Bretanha procedeu então, como a França o fez na Síria e Líbano, a uma democratização do regime conforme alguns dos ditames ocidentais. Promovendo o diálogo público, a mobilidade de agentes económicos, alguma protecção social perante situações de quase escravidão que permanecia na paisagem rural, e estimulando a alfabetização social em massa, o Reino Unido foi incapaz de sufocar esses movimentos emergentes antes que evoluíssem para um verdadeiro movimento social de base ideológica religiosa.

Por conseguinte, a vaga de judeus vindos de uma Europa anti-semita a soldo de Adolf Hitler contribuiu para uma pequena revolução na administração mandatada por Londres. Responsável pela expectativa criada através da Declaração de Balfour e do seu apoio à Federação Sionista, e com redobrada responsabilidade graças ao mandato a soldo da SdN, a conjuntura parecia extremamente favorável aos judeus que procuravam na Palestina a sua casa contra os séculos de opressão e diáspora. Considerando apesar de tudo alguma resistência que surgiu aquando da divulgação da Declaração de Balfour, pois de certa forma era um documento que segregava os judeus como uma raça distinta das demais, o que levou inclusive o Congresso dos Estados Unidos da América a sancionar o escrito alegando que entrava em directo conflito com a sua política de emissão de nacionalidade aos judeus exilados da Europa (uma importante nova elite que cedo se apoderou dos principais aparelhos de Estado), a formação do Estado de Israel estava quase que premeditado com o advento da II Guerra Mundial.

Numa conjuntura de descolonização generalizada, tendo para isso criado a Commonwealth em 1923, o Reino Unido emitiu ainda em 1939 o célebre Papel Branco, em que previa o abdicar do seu mandato a favor de um Estado misto composto por palestinianos árabes e judeus na Terra Prometida, uma que vez que a imigração de um total de 450.000 judeus para a Palestina tinha concretizado os preceitos da Declaração Balfour. Face à revolta árabe de 1936-39, emergiam os primeiros sinais de uma vontade e planeamento de interrupção do mandato uma vez reunidas as condições ideais, isto é, finda a guerra. Com o reconhecimento da Delegação Árabe-Palestiniana para discussão de matérias relativas aos territórios da Palestina, os pretextos estavam criados para um pós-guerra algo conturbado.


Reino Unido e o Mandato Inglês na Palestina

Com a Declaração Belfour – dirigidas, em carta, ao presidente da Organização Sionista Britânica, Lord Rothschild, tal vontade de satisfazer ambos os objectivos – criação de um estado judeu e manutenção no território das comunidades palestinianas existentes – viria a provar-se demasiado antagónico para alguma solução breve poder ser alcançada. Este antagonismo mantém-se ainda hoje. Durante a I Guerra Mundial, os britânicos não só inspiraram e financiaram uma revolta árabe contra o Império Otomano como ocuparam terras palestinianas (e outras terras árabes) no Médio Oriente. Dado o término da guerra, a Grã-Bretanha manteve o seu controlo da Palestina através de um Mandato atribuído pela Sociedade da Nações em 1922, indo ao encontro da essência das palavras de Balfour. Contudo, no período posterior à II Guerra Mundial, a situação na região tornou-se insustentável para o Reino Unido, começando o governo de Sua Majestade a receber críticas dos dois lados. Os judeus acusavam os britânicos de adiarem demasiado, e já sem justificativas possíveis para tal, a criação do Estado de Israel e os árabes acusavam os europeus de dar as suas terras ao povo judaico para aliviar a sua própria consciência dos acontecimentos da II Guerra Mundial. Não apenas isto mas os árabes viam os judeus como colonizadores europeus que vinham oprimir o seu povo.

Por um lado, os sionistas, apoiados pelos norte-americanos e alguns países europeus, queriam que os britânicos abrissem as fronteiras da Palestina a todos os refugiados e sobreviventes do Holocausto nazi. Por outro lado, os árabes palestinianos temiam ser submersos numa emigração judaica em massa e pediam a Inglaterra para não permitir que tal acontecesse. De facto, os britânicos restringiram o fluxo humano em direcção à Palestina, acção que causou desconforto e frustração entre os judeus, levando-os a encetar ataques bombitas contra tropas inglesas estacionadas no território. Em relação à simpatia e auxílio histórico prestado por parte dos Estados Unidos à causa israelita, que aprofundaremos mais adiante, importa referir que a Inglaterra, com os seus laços imperiais às terras árabes do Médio Oriente, estava não só preocupada com a criação de um estado independente judaico como ressentia a posição de vívido apoio que o presidente norte-americano, Harry S. Truman, prestava abertamente aos Israelitas, acusando este de se preocupar apenas com os votos judaicos que isso lhe traria em tempo de eleições em território americano.

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Fundação do Estado de Israel

Como seria previsível, o Reino Unido absteve-me em 1945, e finda a II Guerra Mundial, de continuar uma administração mandatada para o território da Palestina, não só pelo crescente nacionalismo e violência que a facção palestiniana exibia, como pelo desagrado da facção sionista com o governo britânico, pois abstinha-se de dar continuação aos projectos por si anunciados anteriormente. Embora o mandato não cessasse imediatamente, a governação no terreno diminuía a passos largos à medida que mais imigrantes judeus tomavam a Palestina como a sua nova pátria, enquanto que as comunidades palestinianas, desorganizadas a todos os níveis, limitavam-se a reagir à vaga demográfica que lhes invadia o território.

A missão das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP) que tinha por objectivo supervisionar as condições locais no âmbito da possível retirada britânica, abordando simultaneamente judeus e palestinianos era, como a própria organização, um pólo de discordância e inércia que poucos ou nenhuns meios, técnicos e humanos, tinha para estabelecer uma verdadeira missão de observação e apresentar-se como uma autoridade legítima para angariar interesses e negociações. Como refere Ilan Pappe: “A UNSCOP levou nove meses, de Fevereiro a Novembro de 1947, a tomar uma decisão sobre o destino do país. Os competentes e bem preparados representantes sionistas tinham-lhes apresentado um programa de partição já pronto, enquanto o lado palestiniano e árabe não apresentara qualquer alternativa coerente.”

Com efeito, no dia 29 de Novembro de 1947 foi apresentado na Assembleia Geral das Nações Unidas a decisão do UNSCOP acerca do destino político a dar ao futuro da Palestina. O chamado Plano de Partição de 1947 delimitava propostas para a formação de dois Estados independentes, em que o Estado de Israel estender-se-ia do Negev, a maior parte da zona costeira e a Galileia Ocidental, enquanto que o Estado Árabe proposto ficaria com o território remanescente. Ademais, a cidade-santa de Jerusalém ficaria ainda sob administração internacional a supervisionar por um contingente das Nações Unidas, o qual seria deliberado numa ocasião futura.

Contudo, a recém criada organização falhava em atingir o consenso. Entre a própria sociedade judaica, facções emergiam acerca da melhor resolução para o problema, em que uns apoiavam e negociavam com os palestinianos formas alternativas de organizar o território – criando uma união monetária entre dois Estados diferentes, uma federação ou até uma confederação -, e outros que defendiam o afastamento à força de todos os palestinianos insubmissos. O que era certo era que várias campanhas já se organizavam face à previsibilidade de um conflito espoletar entre os sionistas e os árabes, possivelmente chefiados pelo rei Abdullah da Jordânia, anteriormente a Março de 1948 conhecida por Transjordânia, e com a mobilização de toda a Liga Árabe. Desde o aumento dos impostos para aquisição de armamento, protocolos de celebração com os norte-americanos para o abastecimento em matérias-primas e tecnologias militares de ponta, até a campanhas de recrutamento de indivíduos para os serviços de informações e forças armadas regulares.


O abandono das tropas britânicas

No dia 15 de Maio de 1948, o último soldado britânico embarcava juntamente com o último contingente de forças de Sua Majestade. No anterior, a 14 de Maio, assistimos ainda à declaração unilateral de independência por parte de Israel, avançando definitivamente para o seu projecto independente, marginal às resoluções das Nações Unidas para o efeito. Novamente, as massas populacionais, organização política, económica e administrativa, mais o apoio militar dos EUA e complacência internacional das duas superpotências, aliada à incapacidade britânica de conter um facto inadiável, foram factores determinantes que suplantaram a mera acção por reacção dos palestinianos e árabes. Ademais, uma limpeza étnica que decorria desde Março arreigara os palestinianos das suas terras e outras posses, colocando obstáculos virtualmente inultrapassáveis a uma comunidade parcamente organizada. Como era óbvio, as atenções de Israel focalizam-se necessariamente na resposta da comunidade internacional onde os palestinianos poderiam arregimentar algum apoio.

No entanto, o cenário também aí era favorável a Israel. Com um acordo territorial obtido com o Rei Abdullah, o Leste da Palestina era entregue à Jordânia, com o contraponto de participar reduzidamente na Legião Hachemita em construção, que seria num futuro breve lançada contra os intentos Israelitas a soldo da Liga Árabe. A estes juntavam-se os soldados do Exército de Salvação Árabe, também co-patrocinada pela Liga Árabe, e a Legião Árabe, de igual pressuposto.
Esta militarização crescente do povo palestiniano, resposta expectável face aos desenvolvimentos que a facção sionista incutia no decorrer do processo, foi responsável por uma emigração inicial de 70.000 palestinianos, pertencentes sobretudo às elites locais, que abandonavam o território com receio do começo das hostilidades, isto no período entre Setembro de 1947 e Março de 1948. Os planos destas legiões de combatentes, com especial ênfase para a facção hachemita, era o de ganhar o máximo de território possível não só para a Jordânia mas também para as forças da Liga Árabe, sem com isso existir um claro plano de substituição do poder político deixado vazio pelo Reino Unido e conquistado a Israel. Importa também referir que estas várias facções, embora sob alguma forma de influência da Liga Árabe, comungava com elas os seus pecados, isto é, não existia uma clara hierarquia de elites nem de directivas que animassem os eventuais confrontos numa única direcção congruente e que apresentasse uma clara oposição e alternativa ao domínio israelita, e os conflitos intra-faccionários abundavam no próprio seio árabe.

O Partido Trabalhista de David Ben-Gurion, a quem faremos a devida alusão num próximo capítulo, tratou então de aplicar o célebre Plano D, a táctica que seria empregue para consumar a independência israelita. Numa análise muito sucinta, o Plano D consistia num conjunto de medidas bi-fásica que envolviam a ocupação e afastamento dos palestinianos. A primeira fase, a da ocupação, visava a ocupação de todos os serviços, sedes, bases e demais instalações deixadas pelos britânicos, pois constituíam os fundamentos do controlo político-administrativo sobre o território. Por simpatia ideológica com a facção sionista, muitos oficiais de governo britânicos contribuíram ainda para a transmissão de conhecimento estratégico sobre o funcionamento do sistema e seus pontos nevrálgicos, como aldeias, estradas, recursos naturais, etc., que aceleraram o processo de ocupação interna. Assim sendo, à Hagana – ou A Defesa -, foram atribuídos objectivos político-militares de conquista e destruição de aldeias para efectivar o domínio israelita sobre o vazio de poder britânico.

Numa segunda fase, o afastamento dos palestinianos demonstrou o vingar da facção intra-sionista que defendia a adopção de medidas mais drásticas para a consagração do Estado de Israel como uma unidade política de pleno direito, a despeito da posição árabe e palestiniana. Esta viria a ser, aliás, uma posição defendida ao longo da história de Israel, pois diversas vicissitudes clamariam por uma afirmação de força capaz de afastar toda e qualquer contestação à existência do Estado de Israel, como veremos no decorrer deste trabalho.

Como seria previsível, com a declaração de independência e o abandono das tropas britânicas, começa a Guerra da Independência.


David Ben-Gurion

Ben-Gurion nasceu em 1886 na Polónia, na altura parte do Império Russo, e foi o primeiro chefe do governo de Israel. Recebe desde muito jovem a influência das ideias sionistas e socialistas que influenciarão todo o seu percurso político. Ben-Gurion foi líder do movimento sionismo socialista e um dos fundadores do Partido Trabalhista que esteve no poder em Israel ao longo das primeiras três décadas do Estado hebreu.

Foi viver para a Palestina em 1906 para fugir ao anti-semitismo exacerbado que assolava o Leste Europeu. Devido ás suas actividades políticas foi expulso da Palestina, então sob domínio do Império Otomano, corria o ano de 1995. Foi então viver para Nova York regressando á Palestina depois da I Grande Guerra., instalando-se em Telavive.Ben-Gurion foi um dos líderes políticos do movimento Sionismo Trabalhista que havia se tornado na principal tendência dentro da Organização Sionista Mundial.

Durante o período em que as autoridades britânicas exerciam o seu mandato na Palestina, Ben-Gurion ajudou no processo de imigração ilegal de milhares de refugiados judeus europeus para este território. É igualmente considerado o arquitecto da Hagana, a força paramilitar do movimento trabalhista sionista que facilitava a imigração clandestina, e defendia os aglomerados judaicos contra as forças dos árabes. O núcleo duro dessa força, após a independência, passou a constituir o gérmen do exército israelita. Estes factos e os constantes choques de posições, levaram os apoiantes do sionismo a forçarem os britânicos a colocarem um ponto final no seu Mandato da SDN.

Durante o período pré-estado hebreu, os britânicos negociaram frequentemente com a Hagana, e em 14 de Mão de 1948, Ben-Gurion lê, de forma solene, a Declaração de Independência de Israel na cidade de Telavive. Este homem que tão importante foi para a criação de Israel foi o seu líder durante a Guerra da Independência e tornou-se o seu Primiro-Ministro a 25 de Janeiro de 1948, ocupando este cargo até 1963, com uma interrupção entre 1953 e 1955.

Durante a Guerra do Sinai de 1956, na qual Israel atacou a Península do Sinai em retaliação pelos raides por parte do Egipto, Israel fê-lo m colaboração com a Grã-Bretanha e a França que pretendiam assegurar o controlo do Canal do Suez.

Em 1965, cria um grupo de dissidentes em relação ao sistema que ele próprio fez nascer e dois anos depois retira-se da vida política por se encontrar cansado de lutar contra o marasmo no qual o sistema israelita se encontrava.

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Guerra da Independência

Com a declaração de independência a 14 de Maio e com a saída das tropas britânicas, o cenário estava montado para aquilo que todos anteviam: o combate pelo domínio do território. Como tal, os países árabes vizinhos tentariam apoderar-se da maior parcela de território que conseguiriam face ao encurralado inimigo israelita. Com um período transicional extremamente curto e com uma acção mais ou menos coordenada entre as facções apadrinhadas pela Liga Árabe, as probabilidades afiguravam-se desfavoráveis aos sionistas. Não obstante, a história ditaria outro resultado.

À meia-noite do dia 15 de Maio, 10.000 tropas egípcias atravessavam a fronteira entre o Sinai e o Negev, bloqueado a frente Sul contra qualquer ocupação israelita. De Norte, tropas Sírias e Libanesas atravessavam as suas fronteiras em direcção aos grandes centros populacionais, enquanto que as tropas hachemitas provenientes da Jordânia, a Legião Árabe, ultrapassavam em muito os ditames saídos do acordo anterior. Em primeiro, os colonatos isolados e com pouca população sofreram os primeiros assaltos dos inimigos árabes, que apesar de tudo respeitavam mais a interesses próprios para efeitos de despojos de guerra do que propriamente a um plano coordenado de ocupação e eliminação de um inimigo comum. Assim, os movimentos ofensivos de cada elemento encontravam-se algo desajustados face aos principais centros nevrálgicos da sociedade israelita, permitindo um rápido reagrupamento e organização de uma contra-ofensiva. Em direcção a Tel Aviv, capital do novo Estado de Israel, e já chegados a Jerusalém, os primeiros ânimos árabes adivinhavam uma vitória rápida e decisiva.

A 20 de Maio, contudo, um novo elemento seria adicionado ao jogo bélico, com o envio do Conde Folke Bernadotte por parte das Nações Unidas com o objectivo de negociar com as tropas no terreno e organizar uma resposta alternativa à situação. Com o êxodo de mais de 100.000 palestinianos por esta data, desde o princípio do ano, e com a destruição de inúmeros colonatos e aldeias fronteiriças, assistiam-se graves baixos quer do lado palestiniano quer do lado israelita. Ademais, o Conselho de Segurança apelava a um imediato cessar-fogo, o que não foi obviamente acordado. Por parte da comunidade internacional, é apenas de realçar o embargo à venda de armamento que o Reino Unido impusera às partes beligerantes, o que, digamos, não constituiu um grave entrave à continuação da onda de violência, à medida que as tropas árabes avançavam no terreno.

Passada uma semana, as tropas Israelitas começam a ripostar. Nas cidades de Belém e Jerusalém, o domínio árabe durou poucos dias, não se consolidando a presença dessas tropas nas áreas ocupadas. Com a concentração de tropas Israelitas em pontos-chave e a mobilização da população judia, dá-se a expansão israelita após esta primeira onda de amortecimento que tomou os primeiros kilómetros fronteiriços. As tropas sírias e libanesas começavam a debandar em massa no dia 24 de Maio, enquanto que as tropas egípcias imitavam-nas a Sul, recuando para o Negev e depois para o Sinai. A 10 de Junho era, assim, assinada a primeira trégua.

Esta primeira tentativa de estabelecer um status quo era bastante precária. Os limites fronteiriços até então conquistados satisfaziam apenas duas figuras: o rei Abdullah, cujas possessões a Oeste do rio Jordão eram maiores que aquelas acordadas com os Israelitas; e o Reino Unido, que de certo modo reconhecia como naturais as novas fronteiras entre a comunidade judaica recém chegada e as comunidades árabes palestinianas vizinhas. Não obstante, para Tel Aviv, Cairo, Damasco e Beirute, mais guerra era sinónimo de potenciais ganhos, uma vez medidas as capacidades militares recíprocas. E foi aqui que o embargo britânico começou a surtir efeito.

Demonstrada a falta de coordenação entre as tropas envolvidas, a Liga Árabe não mais representou o chapéu sob o qual as tropas Egípcias, Sírias, Libanesas, Jordanas e algumas Iraquianas combatiam. Assim, a falta de recursos e sua precária preparação militar, apenas razoável do lado Egípcio, permitiu a Israel tomar a dianteira na primeira guerra de números. Lembrando o acordo atingido entre as duas superpotências EUA e URSS em relação à questão sionista, Israel vai conseguir ao longo de Junho o abastecimento de armamento pesado por parte de países da Europa de Leste sob influência de Moscovo, elevando os recursos ténico-militares e humanos a valores dificilmente alcançados pelos países vizinhos. Logo, quando deflagrou uma segunda onda de violência, a 8 de Julho.

Com uma imigração judaica cada vez maior, tornava-se patente a superioridade do esforço Israelita em vencer esta guerra. Com efeito, esta segunda fase da guerra caracterizou-se pelo avanço das tropas sionistas em todas as direcções, completado pelo bombardeamento aéreo a todas as capitais inimigas. A máquina de guerra de Tel Aviv estava aprimorada e preparada para prolongar os conflitos indefinidamente. Estes viriam a estender-se até Outubro. Com negociações moderadas pela ONU e com as fronteiras que se alargavam no Negev até à Cisjordânia, e a Norte com os limites do Acordo de Partição, a humilhação árabe fora total. Dos 850.000 palestinianos residentes na Palestina judaica, apenas 160.000 viriam a permanecer depois da Guerra da Independência. Avançado com planos de urbanização e colonização interna, o Estado de Israel apoderara-se dos territórios e possessões palestinianas e reconvertera-as para produção e sustento interno, alterando uma paisagem de escombros numa de reconstrução pós-conflito, com feridas ainda em aberto. Os conflitos agora restringiam-se a meros ataques ocasionais de milícias árabes contra alvos civis Israelitas, num desanuviamento que se prolongaria até 1954.

Terminava a guerra.

O Conflito Israelo-Palestiniano - O Problema do Reconhecimento Internacional

Ajuda prestada pelos Estados Unidos a Israel

Nenhum Estado, após a II Guerra Mundial e subsequente reconstrução europeia, recebeu tanta ajuda vinda dos Estados Unidos como Israel. Desde 1985, todos os anos, recebe dos EUA cerca de 3 biliões de dólares, sendo que 2/3 dessa ajuda é orientada para fins militares. Isto deve-se ao facto de sucessivas administrações norte-americanas o considerarem como um aliado de confiança na região do Médio Oriente e à simpatia que o Congresso americano nutre por este País. A percepção que, tanto americanos como Israelitas têm é de que Israel só conseguirá sobreviver se o seu poder militar for em larga escala superior ao dos seus vizinhos árabes. E sem duvida que isso foi conseguido, pois este tornou-se no exemplo perfeito do que é um Estado militar com forças armadas bem treinadas e na posse de equipamento de alta tecnologia.

A assistência prestada pelos EUA ao recém-formado Estado começou em 1948 com 100 milhões de dólares. Nos primeiros dois decénios da sua existência o seu patrono principal foi a França, que para além de ser quem mais o auxiliava economicamente era também o seu maior fornecedor de tecnologia militar avançada.

O apoio económico por parte dos EUA a Israel, nas proporções que conhecemos hoje, só teve início após as guerras israelo-árabes dos anos 60 e 70. Estas guerras criaram no congresso e na opinião pública americana a ideia de que o jovem Estado estava cercado e permanentemente sobre fogo e que era imperativo fortalecê-lo tanto militar como economicamente.

Também o tipo de ajuda mudou: no início a ajuda recebida por Israel destinava-se a projectos, tais como o desenvolvimento da Agricultura. Depois passou para um Programa de importação de Mercadorias (Commodity Import Program) em que este recebia dinheiro que podia depois usar na compra de mercadorias aos Estados Unidos.
Assim, a partir da década de 60, os Estados Unidos vieram ocupar o lugar que a França tinha deixado vago quando, em 1967 de Gaulle se recusou a fornecer equipamento militar a Israel em protesto contra a Guerra dos Seis Dias.


A URSS e a sua posição perante Israel

Para compreender a dinâmica relacional entre a Russa e Israel – e as suas consequências no conflito israelo-palestiniano – é necessário recuar no tempo e analisar a política da União Soviética e as suas posições para com a conjuntura do Médio Oriente, particularmente a contextualização com Israel e Palestina, tendo em conta a importância do conflito israelo-árabe como parte integrante da Guerra Fria.

Começamos, deste modo, por referir que as relações soviético-Israelitas sofreram diversas mudanças inesperadas, não apenas depois da fundação do estado de Israel, em 1948, mas também durante o período que lhe antecedeu. A URSS, que até então se manifestava publicamente contra a criação de um estado judaico no Médio Oriente, começou a apoiar os sionistas durante debate incluído na temática do UN Partiton Plan de 1947 (que pormenorizaremos no devido capítulo). Como tal se provou impossível, os soviéticos apontaram o seu apoio à criação de um estado judaico. Este apoio ficou visível nas palavras do então embaixador soviético, Andrei Gromyko, na UN Debate Regarding the Special Committee on Palestine: Gromyko Statement. 14 May 1947 77th Plenary Meeting:

The fact that no Western European State has been able to ensure the defence of the elementary rights of the Jewish people and to safeguard it against the violence of the fascist executioners explains the aspirations of the Jews to establish their own State. It would be unjust not to take this into consideration and to deny the right of the Jewish people to realize this aspiration."

O discurso não foi publicado nos meios de comunicação soviéticos – fortemente controlados pelo estado – e pouco tempo depois de Gromyko proferir as citadas palavras, os meios de comunicação soviéticos suspenderão a transmissão de conteúdos anti-sionistas. Na sequência dos eventos, a URSS reconheceu o estado de Israel de jure três dias depois da sua fundação. Uma possível justificação para esta mudança de posição ficou a dever-se à crença que Estaline tinha em como o novo país seria socialista e, desse modo, iria acelerar o declínio da influência britânica no Médio Oriente.

Nova surpresa foi sentida quando, em 1949, se dá uma nova alteração da posição soviética que passa a assumir uma postura de cariz anti-Israel inserida numa lógica anti-cosmopolita. No período espácio-temporal entre os anos de 1953 – ano da morte de José Estaline – e 1967, as relações entre a Rússia e Israel pautaram-se pela cordialidade mas estiveram longe de serem amistosas. A partir do final da década de cinquenta e durante todo o período que durou a Guerra-Fria, os soviéticos passaram a apoiar diversos regimes árabes em deteriorando de Israel.
Quanto o estado judaico se afirmou internacionalmente como aliado do Ocidente, os líderes comunistas declararam o sionismo como uma ideologia inimiga da sua. Durante os últimos anos da Guerra-Fria os judeus eram perseguidos como potenciais traidores, simpatizantes do Ocidente e um risco à segurança comunista. Assim, várias sinagogas foram encerradas e a minoria que permaneceu aberta foi colocada sobre vigilância policial.


O Papel Histórico das Nações Unidas

The Long-range fate of Palestine was the kind of problem we had the U.N. for.” Harry Truman, Presidente dos EUA

Aquando da formação da ONU, em 1945, a Palestina ainda era, como referido anteriormente no presente trabalho, um território administrado pelo Reino Unido, com o estatuto de Mandato, atribuído em 1922 pela Sociedade das Nações. Embora a emigração judaica para a terra sagrada, situada historicamente na Palestina, se tenha intensificado no contexto da II Guerra Mundial, a realidade é que mesmo ainda durante o mandato inglês e num espaço de tempo prévio, que remonta ao final do século XIX, várias terras vinham sendo compradas por judeus de posses, nomeadamente terras aráveis e de cultivo. O Reino Unido, ao deparar-se, em 1947, com o aumentar dos confrontos violentos no território, levou a questão palestiniana às Nações Unidas, pedindo que a Assembleia Geral (AGNU), numa sessão extraordinária, constituísse uma Comissão Especial que encetasse um estudo preliminar e recomendasse possíveis linhas de solução sobre a questão, para ser debatida na seguinte sessão regular da Assembleia – nasce assim a United Nations Special Committee on Palestine (UNSCOP).

É importante referir que esta Comissão Especial, constituída por onze países e que procedeu a viagens á Palestina, Líbano, Síria, Jordânia e mesmo a campos de refugiados na Alemanha e na Áustria, contou com a cooperação de organizações judaicas enquanto que o Comité para a Alta Autoridade Árabe se absteve de participar em protesto com as acções da ONU (nomeadamente o facto de não ter endereçado o assunto da independência). A principal recomendação da UNSCOP, em Agosto de 1947, prendeu-se com a criação de dois estados – um Judaico e um Árabe – com a cidade de Jerusalém a ficar com um estatuto especial internacional sobre a autoridade administrativa das Nações Unidas e ainda com a recomendação das três entidades poderem englobar-se numa união económica comum. No seguimento das recomendações da UNSCOP, foi adoptada a 29 de Novembro de 1947 a Resolução 181.

Esta resolução, que efectuou pequenas mudanças nas recomendações feitas pela Comissão, procedeu à elaboração daquele que ficou designado como United Nations Partition Plan. Este consistia num documento adjunto á resolução que estipulava o fim do mandato britânico na Palestina, a progressiva retirada das tropas inglesas, a delimitação de fronteiras entre os dois estados e ainda o estatuto de Jerusalém. Mais uma vez, enquanto que a Agência Judaica se mostrou favorável ao plano, os árabes palestinianos e os estados árabes não o aceitaram, alegando que este ia contra o princípio fundamental da própria ONU de que cada povo é livre de escolher o seu destino.

A 14 de Maio de 1948, no dia em que o Reino Unido cessou a sua actividade de potência administrante do mandato em que a Palestina até então se encontrava, a Agência Judaica declarou a independência do estado de Israel nas fronteiras estabelecidas pelo Partition Plan. No dia seguinte, as tropas dos países vizinhos árabes – Egipto, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria – entraram no território para auxiliar os árabes palestiniano, dando início a Primeira Guerra Israelo-Árabe (1948-1949) que Israel acabaria por vencer. No rescaldo do conflito, entre Fevereiro e Julho de 1949, têm lugar acordos de armistício assinados por Israel e pelos líderes árabes do Egipto, Jordânia, Líbano, e Síria, sobre o auspício das Nações Unidas.

Ainda antes do final da Guerra, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução 194 (Dezembro, 1948) com vista a delinear soluções que conduzissem ao término do problema palestiniano dando, para tal, ênfase às recomendações feitas pelo enviado das Nações Unidas para a região, como mediador no conflito Israelo-Árabe, Folke Bernadotte, assassinado no ano em questão por um grupo radical sionista conhecido como Stern Gang. A Resolução estabeleceu o papel da United Nations Conciliation Comission como uma organização facilitadora da paz da região que deveria agir como mediador entre as partes. As três maiores questões ao encargo da Comissão eram: i) o tamanho dos territórios; ii) os refugiados; iii) o estatuto de Jerusalém.

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Crise do Suez

Este foi o primeiro momento durante a Guerra-Fria no qual os interesses estratégicos das duas superpotências foram demonstrados compatíveis em termos de delimitação e estabilização do sistema internacional. Neste momento, e perante o retrocesso das influências britânica e francesa, nas suas antigas colónias, que decidem intervir militarmente sem o consentimento expresso de qualquer um dos líderes de bloco envolvidos, Moscovo ou Washington.

O conflito ocorreu no Canal do Suez, em 1956. À altura, Nasser era o líder egípcio que demonstrava um grande poder carismático entre o movimento dos não-alinhados, e que nas suas políticas interna e externa demonstrava ser um acérrimo nacionalista defensor de uma tese pan-arabista na qual o Egipto assumiria um papel fundamental de liderança do movimento. Este ascende ao poder em 1952, e declara-se preponderante na célebre Conferência de Bandung de 1955, que delimita precisamente a criação de um Terceiro Mundo que se afirma excluído e independente do conflito político, ideológico, económico e militar que opunha as duas superpotências mundiais.

O Reino Unido ocupara a região durante várias décadas, administrando a região do Canal do Suez e do Delta do Nilo enquanto área estratégica de controlo do Mediterrâneo, enquanto simultaneamente apresentava uma testa-de-ponte para projecção de influência nas suas colónias do Médio Oriente, que desde a fundação da Sociedade das Nações fora delimitada como Estado mandatário. Aquando da decisão unilateral que levou a Grã-Bretanha a proclamar o Egipto membro do chamado Pacto de Bagdade, que dava forma a uma aliança militar de segurança colectiva para toda a região do Médio Oriente, designada Tratado do Centro, os ânimos entre Cairo e Londres começaram a polarizar-se. O centro da questão derivou da presença e preponderância da Turquia no mesmo pacto, potência regional que representava o grande inimigo tradicional dos egípcios. A pretensão de trazerem os dois a discutirem matérias de segurança e política externa cooperativa foi, contradizendo as ambições de Nasser, um golpe imprudente e neocolonialista do Reino Unido.

Já com Nasser no poder, este pretende comprar para o Egipto armamento diverso que os Estados Unidos se encontravam, proposta essa que estes declinam por um interesse na manutenção de um certo equilíbrio de influências que não abrangesse o Médio Oriente central, assim mantendo relativamente neutralizada um possível foco de conflitos com Moscovo. Além do mais, através da presença de contingentes britânicos e franceses nos países vizinhos, que dominavam a paisagem política da época na região, Washington decidiu abster-se de qualquer contribuição para pretensões armamentistas que atribuíssem ao Egipto uma maior capacidade dissuasora frente a rivais circundantes, especialmente a Israel, ainda um Estado recém criado, ou mesmo à Arábia Saudita. De qualquer forma, agradava-lhes mais terem um Egipto com uma capacidade militar reduzida, do que contribuírem para o seu rearmamento. Apesar de tudo, o abastecimento de petróleo proveniente do Médio Oriente, de longe o maior interesse estratégico na região, encontrava-se assegurado pelos laços privilegiados que mantinha com a Arábia Saudita e com o Irão, dois dos maiores produtores de “ouro negro”. Visivelmente desiludido com os esforços diplomáticos canalizados para Oeste, Nasser decidiu então voltar-se para Leste, em direcção a Moscovo.

Esta viragem viria a torna-se fatídica, pois a percepção que os Estados Unidos extraíram das informações recolhidas apontava para uma política de bluff por parte de Nasser, numa que seria uma clara manifestação da sua posição política externa de confrontação do status quo e de controlo do arabismo pelas potências do Ocidente, que não só anuíram a criação do Estado de Israel na Palestina, forçando o povo aí existente ao exílio e guerra, como também fomentaram as dissensões intra-árabes para proveito próprio. Embora constituísse uma excepção à lógica que fundou o movimento dos não-alinhados, esta aproximação ao bloco soviético era essencialmente estratégico e de redução da influência britânica na região, pois a ameaça hostil de Moscovo não se punha como nas repúblicas que se lhe encontravam próximas. Contudo, como ficou provado, esta decisão não fora bluff, e a percepção de ameaça tornou-se evidente para os Estados Unidos quando a concessão de administração do Canal do Suez foi nacionalizada.

A decisão afectou essencialmente os franceses e ingleses, contrariando uma convenção internacional do século XIX que determinava a passagem ininterruptamente aberta a todo o tipo de embarcações, comerciais e navais. Nacionalizado o Canal do Suez, aqueles decidem intervir apesar da falta de consentimento internacional sobre a matéria, e da ausência de qualquer resolução proveniente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Embora a nacionalização ocorresse antes da eclosão do próprio conflito, as recentes acusações de Nasser face à presença de antigas potências coloniais resultaram numa crescente hostilização de todas as relações que este mantinha com o Reino Unido e França.

Entretanto, já com o conflito a decorrer, Washington decide manter uma posição de afastamento sem qualquer tipo de intromissão, diplomática ou militar. Como o tráfego comercial que transitava através do Canal em direcção à sua economia representava apenas 8% das suas importações e exportações, foi-lhe permitida a mera observação, enquanto as posições envolventes se desgastavam mutuamente sem que resultados imediatos fossem expectavelmente solucionados em breve. Os Estados Unidos sabiam que independentemente da solução encontrada, a influência do Reino Unido e França na região sairiam irremediavelmente reduzidas, ou mesmo anuladas, enquanto estes seriam capazes de assumir um novo protagonismo na região, de acordo com a sua Doutrina de Containment. Por outro lado, a URSS também se afastou, pensando ter no Egipto um aliado vital na estabilização da região a favor dos soviéticos, e em detrimento do Ocidente.

Entrando, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se novamente para decidir sobre a questão do Canal, que sob proposta conjunta do Reino Unido e França, é levada a avaliar a legitimidade da nacionalização do Canal do Suez, e decidir no seu não reconhecimento e forçada intervenção contra o intuito de Nasser. Contudo, e como seria tradição, a URSS opôs-se a tal resolução, impedindo assim qualquer desenvolvimento consensual a soldo da ONU. Pela “porta das traseiras”, Moscovo continuava a vender armamento a Nasser, que agora investia sobre o Deserto do Sinai para incapacidade aliada em conter o avanço egípcio. O seu poderio militar tornou-se tão significativo, e as suas tácticas são efectivas, que o próprio avanço possibilitou a constituição de uma ameaça à integridade territorial de Israel, um inimigo que todos os países árabes partilhavam em comum.

Perante esta contingência, e incapaz de permanecer um mero observador no conflito, Israel decide fazer uso do Direito de Defesa Preventiva e atacar as forças egípcias que avançavam sobre o Deserto do Sinai, um pouco à semelhança daquilo que viria a acontecer com a Guerra dos Seis Dias. Esta decisão logo ganhou o apoio incondicional de Londres e Paris, que assim combinavam forças para, de Leste, constituir a derradeira frente de batalha que forçasse o recuo de Nasser até às suas fronteiras, e eventualmente para longe do Canal do Suez. Com efeito, em Outubro de 1956, estes emitem um ultimato a Nasser a respeito da nacionalização do Canal e avanço das tropas, que é prontamente recusado. Medidas contra-ofensivas são pois realizadas, um passo que acabou por envolver as duas superpotências.

O Presidente Eisenhower, então Comandamente Supremo das Forças Armadas dos Estados Unidos, denuncia a ruptura da aliança atlântica que a intervenção anglo-francesa representa, que fugia à lógica de segurança colectiva que lhes transmitia a OTAN por falha de não informarem o comando integrado previamente. Por outro lado, esta intervenção era ainda reprimida por todo o mundo árabe, que acusava esta nova tripla aliança como manifestação de intentos neocolonialistas de opressão à religião islâmica. Em último lugar, a URSS admitiu ainda a utilização de todo o seu arsenal à disposição, incluindo armamento nuclear, para resolver definitivamente o conflito a proveito da bipolaridade de esferas de influência, que não tinha lugar para intervenções terceiras em zonas estratégicas de grande importância.

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Guerra dos Seis Dias

A Guerra dos Seis Dias foi a mais consistente resposta árabe à fundação do Estado de Israel. Nas vésperas da celebração do seu vigésimo aniversário, Israel encontra-se à data numa posição bastante consolidada face aos seus vizinhos árabes que lutavam ainda para construir um Estado centralizado forte e que não caísse nas mãos de milícias locais que procuravam avivar a doutrina islâmica activista por contestação ao movimento daquelas que obtiveram a independência dos poderes europeus. Com efeito, no ano de 1967, um conjunto de ofensivas diplomáticas lideradas pela Síria e pelo Egipto procuram junto de outras nações árabes o apoio necessário à batalha decisiva contra Israel.

De facto, a resposta Israelita foi um típico caso de ataque pré-emptivo. Face ao crescimento galopante das tensões na região, com o Presidente Gamal Nasser no Egipto e o Rei Hussein da Jordânia a celebrarem vários acordos militares, e ambos com negócios armamentistas com a URSS com vista à construção de um arsenal de guerra moderno e multifacetado, semelhante àquele possuído por Jerusalém, a capital Israelita depois da tomada da cidade em 1950, a Mossad era então bombardeada de relatórios dos seus agentes que avisavam para uma eminente ofensiva árabe proveniente da Jordânia, Síria e Sinai. Previamente humilhados quer na Guerra da Independência quer durante a Crise do Suez, o mundo árabe, já sem a estreita coordenação da Liga Árabe, pretendia fazer finalmente jus àquela que considerava ser uma ocupação indesejada por um vizinho maldito.

Com a escalada armamentista na região do Próximo Oriente, a Israel não lhe é dada alternativa que não seja um ataque pré-emptivo. A primeira frente de batalha dá-se na cidade de Charm-el-Cheikh, a Leste do Sinai, mais concretamente no Golfo de Akaba, onde as tropas das Nações Unidas são incapazes de suster o primeiro acto de violência. Essa cidade, sob regime internacional desde a Crise do Suez de 1956, seria foco das primeiras tensões da responsabilidade do Presidente Egípcio Gamal Nasser, um fervoroso pan-arabista nacionalista, defensor do Não-Alinhamento e da proeminência do poderio do Egipto no seio da Liga Árabe.

No dia 18 de Maio, Nasser emite um pedido a U Thant, então Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, para retirar imediatamente todos os capacetes azuis do Golfo de Akaba, enquanto procedia simultaneamente à interdição incondicional de todo o tráfego Israelita, pretendendo-o isolar de uma fronteira avançada face à infantaria egípcia. Após um ataque Israelita à aviação Síria, quem estava aliada por tratado ao Egipto, era óbvio que o inflamar de tensões resultariam numa guerra em breve, tradicionalmente na época do Verão. Com o abastecimento militar da URSS ao Egipto, motivos não faltavam para que Jerusalém observasse com a maior temeridade os avanços inimigos.

É assim que, no dia 5 de Junho de 1967, a Força Aérea Israelita destrói a sua homóloga Egípcia juntamente com os aeroportos e instalações anexas, incapacitando totalmente o braço aéreo do vizinho a Sudoeste. Ademais, trata ainda de ocupar militarmente o Sinai, tradicional espaço de confrontação com o grande inimigo de Israel, apoderando-se entretanto de Gaza e do Golfo de Akaba. Esta investida apenas terminaria na margem do Suez, onde os exércitos depararam-se frente a frente à espera de novas ordens.

A mesma viria dois dias depois, a 7 de Junho. Ciente da aliança egípcia-síria, e dos efeitos colaterais que o ataque a um dos mais poderosos Estados da Liga Árabe poderia causar em todo o mundo muçulmano, Israel avança novamente pré-emptivamente contra a Síria com a conquista da Cisjordânia e tomada dos Montes Golan, na fronteira com o espaço de Damasco. O carácter meticuloso, planeamento empregue, escolha de alvos e prazos, e audácia Israelita tiveram uma tal repercussão nos inimigos aliados que lhe valeria o epíteto da mais curta guerra na História. Por conseguinte, a aliança com os norte-americanos finalmente traduzia-se numa impressionante superioridade militar face aos restantes vizinhos numa região de grande hostilidade.
Paralelamente com o desenvolvimento de tecnologia militar, cujos sinais começavam a surgir no meio dos sistemas de informação ocidentais e de leste, a Guerra dos Seis Dias constituiu um irrepetível marco de força e determinação de um povo a garantir a sua subsistência, mesmo que para tal tenha que empregar meios coercivos a título de prevenção.

Não admira portanto que logo no dia 8 de Junho, o Egipto aceitasse o cessar-fogo proposto, enquanto que a Síria seguir-lhe-ia os passos no dia 10. Terminava assim a Guerra dos Dias, uma operação de manual a qualquer historiador e analista militar para os quais se demonstra a inequívoca superioridade de umas forças armadas com recurso a alta-tecnologia e a oportunidade de iniciativa para paralisar, com um número mínimo de baixas, todos os mecanismos de contra-ataque dos inimigos. A título de curiosidade, demonstrando essa vitória, Israel começa a guerra com apenas 20.300 km2 de área sob sua administração, enquanto que depois do dia 10 possui cerca de 102.400 km2, um aumento na ordem das cinco vezes.

Desta guerra resultou ainda a proclamação por parte do Knesset, o Parlamento Israelita, da anexação da parte árabe de Jerusalém, dando por suspendidas todas as recomendações do Conselho de Segurança e Assembleia Geral das Nações Unidas. Contudo, só no dia 22 de Novembro do mesmo ano de 1967 viríamos a observar a emissão de uma Resolução 242 que, entre outros objectivos, procurava persuadir Israel a abandonar os territórios ocupados – todos, na versão Francesa do documento; alguns na versão em Inglês -, assim como a reconhecer o direito de todas as nações vizinhas à paz e estabilidade como povos livres.

Conforme consta no texto em Português, que segue infra, o apelo direcciona-se em relação a todos os territórios ocupados, indiscriminadamente. Eis a versão integral do documento:


Resolução 242 da ONU
Conselho de Segurança das Nações Unidas
Resolução 242, 22 de Novembro de 1967


O Conselho de Segurança,
Expressando as suas contínuas preocupações perante a grave situação no Médio Oriente, salientando a inadmissibilidade da apropriação de território por meio de guerra e a necessidade de trabalhar para uma situação de paz justa e duradoura em que cada Estado desta região possa viver em segurança, salientando ainda, que todos os Estados-Membros, ao aceitarem a Carta das Nações Unidas, assumiram o compromisso de agir de acordo com o Artigo 2º desta Carta,


1. Afirma que o cumprimento dos princípios da Carta requer o estabelecimento de uma paz justa e duradoura no Médio Oriente, incluindo a aplicação de ambos os seguintes princípios:
(i) Retirada das forças militares de Israel dos territórios ocupados no recente conflito;

(ii) Fim de todas as exigências, ou estados de beligerância, e o respeito e o reconhecimento da soberania, integridade territorial e independência política de cada Estado da região e o seu direito a viver em paz dentro das fronteiras seguras e reconhecidas, livres de ameaças ou actos de força.

2. Afirma ainda a necessidade de:

(a) Ser garantida a liberdade de navegação através das vias internacionais existentes na região;

(b) Ser alcançado um entendimento justo sobre o problema dos refugiados;

(c) Ser garantida a inviolabilidade territorial e a independência política de cada Estado da região, através de medidas que incluam o estabelecimento de zonas desmilitarizadas.

3. Requer ao Secretário-Geral que designe um Representante Especial que se desloque ao Médio Oriente, para estabelecer e manter contactos com os Estados interessados e para promover o entendimento e apoiar esforços que permitam alcançar um acordo pacífico e aceite, no âmbito das disposições e dos princípios desta resolução.

4. Requer ao Secretário-Geral que informe o Conselho de Segurança sobre os progressos dos esforços do Representante Especial tão cedo quanto seja possível.

A decisão soviética de cortar relações com as autoridades israelitas depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, veio a provar-se ser um erro geopolítico por parte da URSS – como resultado desta decisão, os soviéticos depararam-se com a impossibilidade de exercer qualquer tipo de influência na região e via-se também excluída de participar nas deliberações acerca de possíveis soluções de paz para o conflito israelo-árabe. Várias causas, destacando-se duas principais, podem ser enumeradas para contextualizar as acções soviéticas em 1967: i) a mais importante deveu-se ao pressuposto de que seria mais relevante exercer influência no mundo árabe do que em Israel. Esta lógica, que consequentemente levou ao investimento soviético no mundo árabe – económico, político e militar – traduziu-se em pouca influência política, como era objectivo da URSS; ii) Moscovo tinha também em mãos um dilema de credibilidade política – dificuldade em restaurar relações com Israel sem que isso se transformasse num sinónimo de mudança na sua política externa.

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Guerra Yom Kippur

A Guerra Yom Kippur, assim designada pelo feriado religioso do calendário do Judaísmo, foi um resultado imediato da Guerra dos Seis Dias anteriormente explanada. Conforme decorreu dos acordos de paz que levaram à delimitação das fronteiras de 1967. Importa ainda referir que Yom Kippur, ou o Dia do Perdão no Judaísmo, é, na sua vertente sócio-religiosa, uma celebração de purgação do corpo em prol da alma, durante o qual os crentes abstém-se de comer, banharem-se, praticar relações sexuais, ou utilizarem qualquer tipo de adorno corporal (i.e. cremes, loções, perfume, etc.) como forma de atribuir à alma a atenção devida ao seu rejuvenescimento e unicidade.

As hostilidades começaram quando uma coligação entre o Egipto e a Síria avançaram sobre a fronteira do Sinai e nos Montes Golan, onde as tropas Israelitas tinham construído os seus postos avançados depois da guerra anterior. No dia 6 de Outubro de 1973, um ataque surpresa por parte desta coligação apanhou a comunidade israelita de surpresa enquanto celebravam o seu Yom Kippur, causando uma momentânea fragilidade nas defesas de Jerusalém. No entanto, após uma semana de conflitos, as tropas israelitas, com um elevado grau de treino e disciplina, e tecnologia militar de ponta à sua disposição, conseguiram expulsar o inimigo Sírio a Norte, nos Golan, e forçá-los a retroceder novamente para além das fronteiras. Simultaneamente, na frente a Sul, uma divisão de artilharia rompia a ofensiva egípcia, ao género de blitzkrieg. Após forçarem numa primeira fase as tropas Israelitas à rendição, nas desérticas planícies do Sinai, esta contra-ofensiva inesperada faz recuar os exércitos egípcios até ao Canal do Suez, até onde os Israelitas tinham avançado, até finalmente se verificar um efectivo cessar-fogo promovido pelas Nações Unidas.

Para além das perdas humanas, que rondaram os 8.500 mortos do lado Egípcio e Sírio, em comparação com 2.300 Israelitas, uma das mais gravosas consequências foi a Crise Petrolífera que se abateu sobre os mercados mundiais. Com o apoio declarado dos EUA e Ocidente à causa israelita, pois as inúmeras ligações do Egipto à URSS tornavam as estimativas favoráveis à causa árabe e subsequente destruição do Estado de Israel, a OPEP tomou a iniciativa de reduzir a produção de barris de petróleo, assim inflaccionando todo o mercado petrolífero, chegando inclusivamente a falhar a oferta para toda a procura. Com o abrandamento e profunda destabilização das economias ocidentais, punha-se a nú a vulnerabilidade com que as chamadas economias livres dependiam as economias árabes produtoras de petróleo. Organizadas em organização internacional, a Guerra Yom Kippur foi pois um momento de importante definição das regras do jogo em que a Guerra-Fria assentava.

Ademais, com o armistício celebrado entre Israel e o Egipto, os aclamados Acordos de Camp David, este tornava-se o primeiro país islâmico a reconhecer de facto e de jure a existência do Estado de Israel, numa clara lógica de distanciamento do pan-arabismo de Nasser e do marxismo da URSS.


Acordos de Paz após a Guerra de Yom Kippur.

A onze de Novembro de 1973 foi assinado entre o Egipto e Israel um acordo de paz, denominado de “Acordo km101” por ter sido celebrado em plena estrada Suez-Cairo no km 101. Este acordo permitiu a realização em Genebra em Dezembro do mesmo ano, de uma Conferência de Paz para o Médio Oriente promovida pela ONU e que contou com Israel e vários países árabes como o Egipto, a Jordânia e a Síria. Os assuntos prioritários seleccionados pelos participantes para serem discutidos seriam as retiradas dos territórios sírio e egípcio. A participação dos Estados Unidos havia sido requerida pelo Egipto e pela Síria que, no momento, acreditavam que a influência americana sobre Israel trazer-lhes-ia vantagens. Os sírios não participaram da primeira
sessão de negociações porque só iriam para a conferência depois que os israelitas se retirassem dos territórios ocupados durante a guerra.

Em Janeiro de 1974, enquanto a conferência de Genebra não mostrava resultados muito positivos, Kissinger lançou-se de novo na diplomacia de ponte aérea (designação pela qual ficcu conhecida o seu esforço na mediação destes acordos) entre Israel e o Egipto para tentar conseguir a assinatura de um novo acordo.

Apesar das divergências entre as partes serem consideráveis, e do facto de Israel passar por um processo de eleições, o secretário de Estado acreditava no sucesso da mediação.
O segundo acordo do km 101 foi então assinado a dezoito de Janeiro de 1974, de forma difícil entre as partes envolvidas e onde se acordou a retirada das forças militares israelitas para uma distância de trinta km para este do Canal do Suez. No decurso dos quarenta e dois dias à celebração do acordo, assistiu-se à criação de uma zona de dez km entre as forças israelitas e egípcias, que posteriormente viria a ser ocupada por uma força de manutenção da paz da ONU. O mesmo acordo contempla a redução do corpo militar egípcio estacionado a este do Suez, de modo a permitir a reabertura do canal à navegação externa.

Ou seja, o Egipto recua para a posição anterior ao início da guerra. Com a Síria, as negociações são feitas através da mediação dos Estados Unidos, representados pelo seu secretário de Estado já mencionado, Kissinger, em destaque como mediador das negociações. Também neste caso, chega-se a um acordo de recuo mútuo das tropas. No Sinai, são estacionadas novamente tropas da ONU. Às colinas de Golã, é enviada a tropa UNDOF, das Nações Unidas, com observadores do cumprimento do acordo.

Tendo como modelo o acordo de retirada com o Egipto, Kissinger engajou-se em conversações com os sírios esperando também conseguir que eles assinassem um acordo com os israelitas. Como os países árabes produtores de petróleo queriam que os Estados Unidos conseguissem também um acordo sírio-israelita, Kissinger colocou a retirada do embargo como condição para actuar novamente como mediador. Havia um número menor de territórios a serem negociados e os Golã tinham uma importância estratégica bem maior do que o Sinai por estar próximo de colonatos israelitas muito povoadas. Kissinger pretendia fazer com que a Síria devolvesse os prisioneiros de guerra israelitas, assim como o Egipto havia feito, em troca da retirada nos Golã. Mas, logo de início as negociações chegaram a um impasse com a recusa dos dois lados em fazer concessões. Kissinger precisou ganhar mais tempo para agir porque o fracasso dessa mediação implicaria na permanência do embargo. Representantes de Israel e da Síria deslocaram-se então a Washington para negociar, Kissinger convenceu a Arábia Saudita e a Jordânia de que as negociações lá poderiam ser mais frutíferas e que desse modo os dois países não precisariam mais manter o embargo.

Porém as negociações nos Estados Unidos não andaram tão bem como Kissinger previa. Os israelitas mais uma vez propuseram um plano que jamais seria aceite pela outra parte. Os sírios não se deixavam influenciar tão facilmente como os egípcios. Ao perceber que o impasse já durava há muito tempo e que as duas partes não cediam só através da persuasão, Kissinger resolveu ameaçá-las com o uso de sanções. Acreditando nas ameaças do secretário de que não conseguiriam sair do impasse de outra forma que não fosse a guerra, os dois países aceitaram fazer as concessões necessárias para o acordo planejado pelos americanos e o assinaram em 31 de Maio durante a Conferência de Genebra. Com o acordo43 os israelitas retiraram-se dos Golã de uma distância pouco atrás das linhas que ocuparam na guerra de Outubro de 1973.

O Conflito Israelo-Palestiniano - Os Acordos de Camp David

No dia 26 Março de 1979, numa cerimónia na Casa Branca, foi assinado o primeiro acordo de paz entre um país árabe e Israel, reconhecendo a existência deste como Estado. O acordo entrou para a história como Paz de Camp David, em referência à residência de verão dos presidentes dos EUA em Maryland.

Um ano e meio antes, em contactos secretos, Sadat começara a preparar a paz com os israelitas. Tanto o Egipto quanto Israel consideravam-se vencedores da Guerra do Yom Kippur (o Dia do Perdão, na religião judaica), que durara 19 dias, em Outubro de 1973. Esta sensação possibilitava negociações em pé de igualdade entre os dois países. Em Israel, Menachem Begin vencera surpreendentemente as eleições. Dele não se esperava uma adesão ao processo de paz, já que, como líder nacionalista, sempre sonhara com um grande Estado de Israel.

Talvez Sadat tenha tomado a iniciativa justamente por causa da redução das oportunidades de paz. O líder egípcio declarou no parlamento que iria "até o fim do mundo, até mesmo ao Knesset", em busca da solução pacífica para o conflito no Médio Oriente. Este discurso foi aplaudido por deputados e visitantes, entre eles o líder da então Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, mas para a maioria não passava de mera retórica. Pressionado, Menachem Begin acabou convidando Sadat para uma visita de surpresa a Jerusalém, em Novembro de 1977, num gesto que abriu definitivamente o caminho para o acordo de paz.

Após esse primeiro contacto, sucederam-se negociações aparentemente fáceis sobre a retirada das tropas israelitas da península do Sinai e a criação de uma autonomia para os territórios palestinos. Os acordos de paz israelo-egípcio foram negociados em 1978 e completados no ano seguinte em Camp David, com mediação decisiva do presidente norte-americano Jimmy Carter.
Jimmy Carter decidiu convidar Begin e Sadat para Camp Davd, para que aí, relativamente isolados pudessem chegar a um consenso. A 4 de Setembro iniciou-se o que acabou por evoluir para uma sessão de trabalhos que durou treze dias, que envolveu quase cinquenta pessoas em cada um dos lados. Sadat queria um acordo de paz alargado e era o membro mais participativo d delegação egípcia. Tinha como requisitos essenciais que Israel deixasse a zona egípcia do Sinai e que houvesse um acordo alargado que abrangesse os territórios ocupados, os direitos dos palestinianos e o compromisso de Israel resolver pacificamente quaisquer disputas que surgissem com os seus vizinhos. Ambas as partes deviam comprometerem-se a honrar a Resolução 242 da ONU.

Chegou a haver ocasiões em que Sadat e Begin estiveram prestes a encerrar as negociações e a voltar para casa mas, finalmente, os Acordos de Camp David foram negociados incluído o quadro para um tratado de paz entre os dois países, a 17 de Setembro de 1979.
É necessário recordar que os Acordos de Camp David, assinados por Begin e Sadta e oficialmente ratificados pelos seus governos confirmaram mais uma vez o compromisso de que seriam honradas as Resoluções 242 e 338 da ONU, que proibiam a apropriação de terra pela força e exigiam a retirada de Israel dos territórios ocupados. Os Acordos determinavam que deveria existir “autonomia completa” para os habitantes dos territórios ocupados, que as forças militares e civis israelitas deviam retirar-se da Margem Ocidental e da Gaza e que o povo palestiniano devia ser reconhecido como uma entidade política autónoma, com o direito de decidir o seu próprio futuro, o que era uma passo decisivo no sentido de um Estado palestiniano. Os Acordos especificam também que os palestinianos devem participar como iguais em novas negociações e que o estatuto final da Margem Ocidental e de Gaza deve ser submetido ao voto dos representantes eleitos dos habitantes da margem Ocidental e de Gaza.

Em complemento foi também assinado um acordo-quadro de paz israelo-egípcio, onde era decidida a retirada de Israel do Sinai e o desmantelamento dos colonatos no território egípcio, o estabelecimento de relações diplomáticas entre Israel e o Egipto, a abertura de fronteiras ao comércio, a garantia de passagem dos navios israelitas pelo canal do Suez e um tratado de paz permanente para confirmar estes acordos.
Perplexo, o mundo árabe rompeu relações com o Egipto e transferiu a sede da Liga Árabe para a Tunísi. Sadat nem sequer chegou a ver completa a retirada das tropas israelitas do Sinai. Em Outubro de 1981, foi assassinado por fundamentalistas muçulmanos, que o acusavam de "haver traído o mundo árabe com o acordo de paz".

Mesmo sob resistência interna da direita, Israel devolveu o Sinai aos egípcios em 1982 e os dois estados estabeleceram relações diplomáticas. O destino da Faixa de Gaza ficou indefinido, à espera de uma solução para a questão palestiniana.
Embora a violência política, o ódio étnico e a instabilidade tenham continuado a marcar a Palestina até os dias de hoje, mesmo avanços parciais e incompletos como a paz com a Jordânia e os Acordo de Paz de Oslo não teriam sido possíveis sem o precedente de Camp David, que demonstrou ao mundo que árabes e israelitas eram capazes de dialogar de maneira positiva.


A reforma administrativa de Israel

Um artigo de 1978 da revista Time conta como 1.6 milhões de muçulmanos se uniram em fervorosa oração pela libertação de Jerusalém Oriental. Dias antes, o Primeiro Ministro Israelita havia afirmado que, Jerusalém tanto é a capital do Estado de Israel como Washington o é para os Estados Unidos. A única diferença residia no facto desta última o ser há 200 anos, enquanto a primeira existe como capital israelita desde há 3000 anos. Anwar Khatib, antigo governador de Jerusalém Oriental sob domínio jordano, afirma, no mesmo artigo, que sem a salvaguarda da soberania árabe sobre Jerusalém Oriental, nenhuma proposta será considerada.

O mesmo artigo refere como os Israelitas não esquecem os muros e arame farpado que dividiram a cidade durante 19 anos, nem a expoliação do bairro Judeu da Velha Cidade às mãos dos Árabes_ Nunca mais poderá a cidade ser dividida e os Judeus privados dos seus locais santos.
Por esta altura (1978) o bairro Judeu fora meticulosamente reconstruído e dois mil israelitas aí se estabeleceram (a população anterior era de 1.300 habitantes). Famílias árabes habitando perto do Muro haviam sido deslocadas e a população árabe da Velha Cidade decaiu significativamente.
As infraestruturas estatais israelitas mudaram-se para o sector oriental da cidade nesta altura. O governo isarelita procedera à construção de complexos de apartamentos, destinados a serem ocupados por judeus, na cintura de Jerusalém Oriental e a economia israelita providenciara trabalho no sector ocidental da cidade para árabes residentes no sector oriental, deste modo criando uma relação económica permanente que tornasse inviável uma nova divisão da cidade.
O artigo denota a intransigência das posições de ambas as partes que pouco, ou nada, mudaram com o passar dos anos. Também deixa claro a resistência israelita em abdicar da reunificação de Jerusalém ao encetar imediatamente projectos económicos, com reflexos sociais impossíveis de ignorar, e o esforço de integração de ambos os sectores.

Note-se que, tanto a reunificação como os projectos de desenvolvimento levados a cabo pelo governo israelita, não têm o aval internacional uma vez que a comunidade internacional considera, ainda hoje, ilegal esta ocupação. Apesar de Israel ter declarado Jerusalém a capital, as embaixadas ainda se encontram sediadas em Tel Aviv.