A política de Estado iraniana está oficialmente subordinada á teologia do Islão, que significa “o acto de se submeter a Deus”-
A Pérsia, antepassada do Irão foi conquistada pelo Islão em 642 d.C, sendo o xiismo, uma das duas grandes famílias do Islão, a religião oficial da República Islâmica do Irão.
Xiismo e sunismo constituem as duas principais correntes do mundo muçulmano. O sunismo é, de longe, a mais popular, contando com cerca de 90% de crentes.
A diferença entre elas não reside em fundamentos doutrinais do Islão, refere-se antes a circunstâncias históricas relativas á sucessão de Maomé.
Os sunitas aceitam como sucessores do Profeta os Quatro Califas Bem Guiados – Abu Bakr, Omar, Othman e Ali. Já os xiitas não encaram com bons olhos os três primeiros Califas dado que estes, segundo a óptica xiita, acederam ao Califado em detrimento de Ali, primo e genro de Maomé e que por esta mesma condição apresentava-se como o mais digno sucessor. Ali foi assassinado em 661 tal como os seus dois filhos, Hassan e Hussein. A forma como este último morreu, na batalha de Kerbala, no actual Iraque, constituí o clímax da história combatente do xiismo.
De forma sucinta, a batalha de Kerbala, junto ao Rio Eufrates, consistiu num confronto entre Hussein e os seus 72 companheiros, e o exército de milhares de homens de Yazid I. Após resistirem por alguns dias ao exército sunita, Hussein e os seus companheiros acabaram por ser derrotados e mortos. Deste massacre apenas mulheres e crianças escaparam. Esta batalha afigura-se como o melhor exemplo da filosofia combatente dos xiitas, “antes a morte que a rendição”.
Os xiitas duodécimanos prestam culto a Hussein, que consideram o seu 3º Imã (Homem Santo), depois de Ali e Hassan.
O xiismo constituí a religião maioritária no Irão, tal como no Iraque, facto este desde 1501, cerca 60% da população. No entanto, estes são países excepção pois nos restantes Estados árabes, a maioria sunita é detentora do poder político. Esta curiosidade não é irrelevante; antes, constitui um importante factor de desestabilização dentro da comunidade muçulmana de toda a região. Historicamente conflituosas, estas duas famílias espelham as clivagens outrora existentes entre as correntes católicas e protestantes na Europa do século XVI: uns, no poder, são responsáveis pela opressão dos outros, da família oposta. Isto para referir que, em termos genéricos, a minoria xiita não possui posições de governo em situação de preponderância. No Iraque, tal como no Irão, esta lógica não se aplicava, e o Partido Baath de Saddam Hussein exercia uma forte opressão sobre a maioria xiita da população contribuindo assim para uma estabilidade pouco ortodoxa.
Contudo, este equilíbrio foi duramente abalado aquando da invasão norte-americana do Iraque no ano de 2003. Em pouco tempo, o anterior sistema de coesão intra-muçulmana foi subitamente derrubado, facto este que constituiu uma excelente oportunidade para o governo de Teerão de adquirir e exercer uma maior pressão sobre o seu vizinho geográfico. Mais, o “ónus conciliatório” alterou-se para o Irão, que prontamente aproveitou as profundas dissensões existentes entre muçulmanos e ocidentais para hostilizar o cenário político iraquiano, fomentando a pacificação e coesão entre os filhos de Allah, em detrimento das suas dissensões. Exemplo disso foram as eleições legislativas iraquianas de 2005, que levaram ao poder os conservadores religiosos xiitas, acérrimos defensores da implementação da sharia no corpo jurídico do país, e que são a mais visível face e voz dos ideais anti-ocidentais muçulmanos. Neste cenário, o Primeiro-Ministro Nouri Al-Maliki exerce um papel de moderador ingrato entre um povo hostil e uma influência externa poderosa.
Não admira, portanto, que o Irão adquira mais e mais influência na forma como as duas principais famílias muçulmanas encaram a presença externa na região. Lembramos que, até 2003, o governo de Khatami albergava importantes chefias xiitas exiladas provenientes do vizinho ocupado, Iraque, e que essas mesmas seriam mais tarde integradas enquanto parte constituinte do actual governo em funções, apoiado pelos Estados Unidos. Como já foi anteriormente referido, o Irão é o principal responsável pelo actual clima de crescente violência que se vive no Iraque, apoiando logística, militar e doutrinalmente as milícias, sunnitas e xiitas, que semeiam o caos nas zonas de influência norte-americanas. O mesmo podíamos extrapolar para o caso de Israel, que face a diversas frentes de conflito, sofre directa e constantemente de um ódio anti-semita aliado ao profundo desprezo das populações árabes e muçulmanas vizinhas aos ideais ocidentais, e suas manifestações pelos laços privilegiados que Telavive partilha com Washington. A título de exemplo, algumas das organizações terroristas que mais ferozmente se opõem ao Estado de Israel são directamente financiadas pelo Irão, como é o caso do Hamas, Hezbollah, e outras organizações paralelas. Mais, a Síria representa ainda um importante actor na região que, financiada pelo Irão, lhe é subordinada e actua como elo intermediário entre o centro de tomada de decisão em Teerão, e locais de planeamento e actuação das mesmas organizações.
Assim, é de notar o esforço iraniano no sentido de congregar todo o mundo muçulmano para minar a presença ocidental numa região encarada como pertencente à sua esfera de influência. O desenvolvimento de um programa nuclear, alegadamente para fins pacíficos, respeita esta lógica de gradual hostilização e ascensão do Irão a grande potência, pressuposto que, a realizar-se, iria acarretar o surgimento de um novo equilíbrio de potências em todo o Médio Oriente, com consequências dramáticas para o actual status quo.
A título conclusivo, é de salientar ainda os esforços que o Irão tem direccionados a Norte, para a região do Mar Cáspio, onde participa activamente, e com alguma preponderância, na determinação das fronteiras geográficas com os restantes países ribeirinhos (Rússia, Azerbeijão, Cazaquistão e Turquemenistão), onde almeja adquirir 20% do respectivo espaço marítimo, além de todos expressarem a sua vontade na criação de um bloco económico regional, ao estilo OPEP, por forma a determinarem os níveis de produção e estratégias comerciais do petróleo aí explorado. Como anteriormente referido, este é um dos grandes plano de actuação que o Irão adopta na sua demanda pela hegemonia regional, e excusa mais acrescentos.
Tendo em conta a sua clara pretensão a alcançar uma posição de domínio político-militar na região, este tem em conta que esta estratégia apenas será bem sucedida caso este país detinha o domínio energético da região, objectivo para o qual tem focalizado grande parte das suas políticas externas, em clara oposição a influência de potências estrangeiras neste que é considerado, em muitos aspectos, o centro do mundo.
A Pérsia, antepassada do Irão foi conquistada pelo Islão em 642 d.C, sendo o xiismo, uma das duas grandes famílias do Islão, a religião oficial da República Islâmica do Irão.
Xiismo e sunismo constituem as duas principais correntes do mundo muçulmano. O sunismo é, de longe, a mais popular, contando com cerca de 90% de crentes.
A diferença entre elas não reside em fundamentos doutrinais do Islão, refere-se antes a circunstâncias históricas relativas á sucessão de Maomé.
Os sunitas aceitam como sucessores do Profeta os Quatro Califas Bem Guiados – Abu Bakr, Omar, Othman e Ali. Já os xiitas não encaram com bons olhos os três primeiros Califas dado que estes, segundo a óptica xiita, acederam ao Califado em detrimento de Ali, primo e genro de Maomé e que por esta mesma condição apresentava-se como o mais digno sucessor. Ali foi assassinado em 661 tal como os seus dois filhos, Hassan e Hussein. A forma como este último morreu, na batalha de Kerbala, no actual Iraque, constituí o clímax da história combatente do xiismo.
De forma sucinta, a batalha de Kerbala, junto ao Rio Eufrates, consistiu num confronto entre Hussein e os seus 72 companheiros, e o exército de milhares de homens de Yazid I. Após resistirem por alguns dias ao exército sunita, Hussein e os seus companheiros acabaram por ser derrotados e mortos. Deste massacre apenas mulheres e crianças escaparam. Esta batalha afigura-se como o melhor exemplo da filosofia combatente dos xiitas, “antes a morte que a rendição”.
Os xiitas duodécimanos prestam culto a Hussein, que consideram o seu 3º Imã (Homem Santo), depois de Ali e Hassan.
O xiismo constituí a religião maioritária no Irão, tal como no Iraque, facto este desde 1501, cerca 60% da população. No entanto, estes são países excepção pois nos restantes Estados árabes, a maioria sunita é detentora do poder político. Esta curiosidade não é irrelevante; antes, constitui um importante factor de desestabilização dentro da comunidade muçulmana de toda a região. Historicamente conflituosas, estas duas famílias espelham as clivagens outrora existentes entre as correntes católicas e protestantes na Europa do século XVI: uns, no poder, são responsáveis pela opressão dos outros, da família oposta. Isto para referir que, em termos genéricos, a minoria xiita não possui posições de governo em situação de preponderância. No Iraque, tal como no Irão, esta lógica não se aplicava, e o Partido Baath de Saddam Hussein exercia uma forte opressão sobre a maioria xiita da população contribuindo assim para uma estabilidade pouco ortodoxa.
Contudo, este equilíbrio foi duramente abalado aquando da invasão norte-americana do Iraque no ano de 2003. Em pouco tempo, o anterior sistema de coesão intra-muçulmana foi subitamente derrubado, facto este que constituiu uma excelente oportunidade para o governo de Teerão de adquirir e exercer uma maior pressão sobre o seu vizinho geográfico. Mais, o “ónus conciliatório” alterou-se para o Irão, que prontamente aproveitou as profundas dissensões existentes entre muçulmanos e ocidentais para hostilizar o cenário político iraquiano, fomentando a pacificação e coesão entre os filhos de Allah, em detrimento das suas dissensões. Exemplo disso foram as eleições legislativas iraquianas de 2005, que levaram ao poder os conservadores religiosos xiitas, acérrimos defensores da implementação da sharia no corpo jurídico do país, e que são a mais visível face e voz dos ideais anti-ocidentais muçulmanos. Neste cenário, o Primeiro-Ministro Nouri Al-Maliki exerce um papel de moderador ingrato entre um povo hostil e uma influência externa poderosa.
Não admira, portanto, que o Irão adquira mais e mais influência na forma como as duas principais famílias muçulmanas encaram a presença externa na região. Lembramos que, até 2003, o governo de Khatami albergava importantes chefias xiitas exiladas provenientes do vizinho ocupado, Iraque, e que essas mesmas seriam mais tarde integradas enquanto parte constituinte do actual governo em funções, apoiado pelos Estados Unidos. Como já foi anteriormente referido, o Irão é o principal responsável pelo actual clima de crescente violência que se vive no Iraque, apoiando logística, militar e doutrinalmente as milícias, sunnitas e xiitas, que semeiam o caos nas zonas de influência norte-americanas. O mesmo podíamos extrapolar para o caso de Israel, que face a diversas frentes de conflito, sofre directa e constantemente de um ódio anti-semita aliado ao profundo desprezo das populações árabes e muçulmanas vizinhas aos ideais ocidentais, e suas manifestações pelos laços privilegiados que Telavive partilha com Washington. A título de exemplo, algumas das organizações terroristas que mais ferozmente se opõem ao Estado de Israel são directamente financiadas pelo Irão, como é o caso do Hamas, Hezbollah, e outras organizações paralelas. Mais, a Síria representa ainda um importante actor na região que, financiada pelo Irão, lhe é subordinada e actua como elo intermediário entre o centro de tomada de decisão em Teerão, e locais de planeamento e actuação das mesmas organizações.
Assim, é de notar o esforço iraniano no sentido de congregar todo o mundo muçulmano para minar a presença ocidental numa região encarada como pertencente à sua esfera de influência. O desenvolvimento de um programa nuclear, alegadamente para fins pacíficos, respeita esta lógica de gradual hostilização e ascensão do Irão a grande potência, pressuposto que, a realizar-se, iria acarretar o surgimento de um novo equilíbrio de potências em todo o Médio Oriente, com consequências dramáticas para o actual status quo.
A título conclusivo, é de salientar ainda os esforços que o Irão tem direccionados a Norte, para a região do Mar Cáspio, onde participa activamente, e com alguma preponderância, na determinação das fronteiras geográficas com os restantes países ribeirinhos (Rússia, Azerbeijão, Cazaquistão e Turquemenistão), onde almeja adquirir 20% do respectivo espaço marítimo, além de todos expressarem a sua vontade na criação de um bloco económico regional, ao estilo OPEP, por forma a determinarem os níveis de produção e estratégias comerciais do petróleo aí explorado. Como anteriormente referido, este é um dos grandes plano de actuação que o Irão adopta na sua demanda pela hegemonia regional, e excusa mais acrescentos.
Tendo em conta a sua clara pretensão a alcançar uma posição de domínio político-militar na região, este tem em conta que esta estratégia apenas será bem sucedida caso este país detinha o domínio energético da região, objectivo para o qual tem focalizado grande parte das suas políticas externas, em clara oposição a influência de potências estrangeiras neste que é considerado, em muitos aspectos, o centro do mundo.
Joana Gonçalves Junqueira & Tiago Alexandre Maurício
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