Palavras Finais
Como já referi por várias ocasiões, o Mundo Islâmico, e particularmente a região do Médio Oriente, constitui-se como o Centro do Mundo e portanto, a sua análise multidisciplinar (económica, política, social, religiosa, etc.) permitir-nos-á avaliar o nível de conflitualidade existente na comunidade internacional, funcionando como um excelente instrumento de medição do panorama global e do jogos de poder que nele se materializam.
Por conseguinte, não é com surpresa que assistimos a inúmera bibliografia relativa a esta temática, cada qual avançando com a sua própria terminologia, realçando este ou aquele aspecto, e formulando ainda modelos analíticos sistémicos, que visam apresentar um entendimento científico para um conjunto infindável de variáveis em constante mudança. Como tal, também na Geopolítica encontramos autores e ensinamentos que nos permitem entender qual a importância para o sistema mundial de potências, e como estas projectam a sua influência para estas áreas de conturbação, nomeadamente no Médio Oriente. Com efeito, será agora tempo de apresentar sumariamente os respectivos autores e concepções no que ao revivalismo islâmico médio orientista diz respeito.
Olhando para a conceptualizaçao teórica de Spykman, e em particular para o seu conceito de Rimland, composto por zonas que seriam e são de competição e conflitualidade entre as principais potências locais, regionais e mundiais, podemos desde logo constatar com natural evidência a importância que esta zona de intermediação entre o Novo e Velho Mundo possui. Estendendo-se da Europa Báltica, da Península Ibérica ao Mar Negro, Próximo e Médio Oriente, planaltos da Ásia Central, e Extremo Oriente, este autor vai classificar esta região circundante do centro continental euro-asiático, também conceptualizado por Mackinder sob a designação de Heartland, como uma zona de amortecimento ou Buffer Area. Como o próprio nome indica, estas zonas seriam zonas de confrontação e de diluição do poder das potências marítimas e continentais que forçam estes Estados a um dilema securitário derivado desta vulnerabilidade dual. Contudo, e considerando a sua natureza, seria ainda responsável pela intermediação das mesmas potências impedindo o acesso de qualquer uma ao estatuto de potência hegemónica mundial por confrontação militar total com a opositora.
Tendo em conta as palavras de Spykman: “o domínio do mundo através do domínio do Heartland está condicionado pelo controlo prévio do Rimland, dado que sem este o Heartland não possui condições para impor a sua hegemonia”, poderíamos traduzir para o contexto actual, e circunscrevendo-me à região do Médio Oriente, que se constituí como uma parte do Rimland de Spykman, e tomando em linha de conta as ideias de um outro geopolitico, Saul Cohen que a apelida de Shatterbelt, é então possível vislumbrá-la como uma zona de fragmentação, de crescente tensão e onde as discrepâncias internas juntamente, com ingerências externas, a tornam vulnerável.
Com efeito, Cohen será o autor do pensamento geopolítico mais sistematizado relativo ao Médio Oriente, pois na sua concepção global de distribuição de poder, identificando para isso duas Áreas Geoestratégicas – o Mundo Marítimo Dependente do Comércio e o Mundo Continental Euro-Asiático –, dá especial ênfase à particularidade do “centro do mundo”. Para tal, apelida-o de Shatterbelt, um espaço geográfico que apresenta características de fragmentação entre espaços económicos, políticos, religiosos e societais em confrontação directa. Enunciando simultaneamente a existência de um Shatterbelt no Sudeste Asiático, Cohen defende que estas seriam regiões de fragmentação nas quais os alinhamentos relativos às respectivas potências das duas áreas geoestratégicas reflectiriam uma extrema volatilidade, umas vezes apresentando um grupo de Estados a penderem para uma área, outras vezes pendendo para a outra. Ademais, a influência necessariamente global das potências directoras de ambas as áreas geoestratégicas reflectir-se-ia nestes Shatterbelts como fenómenos exógenos de fragmentação, procurando cada qual adquirir uma vantagem estratégica que permitisse penetrar directamente na sede do poder estratégico da outra área.
O que por vezes não fica claro é a possibilidade de qualquer potência regional emergir como potência directora, e assim contornar as dissensões que afectam conjuntamente os restantes Estados, e assegurar o futuro dos destinos dessa região. Caso uma potência directora emergisse, ultrapassando as ingerências exógenas e endógenas, teria que favorecer um de dois alinhamentos possíveis. Caso enveredasse pela maritimidade, desestabilizaria imediatamente, e porventura irremediavelmente, a balança a favor do Mundo Marítimo Dependente do Comércio. O reverso aconteceria vice-versa. Este equilíbrio instável é tendencialmente autoregulador, com vista à manutenção do status quo, como ficou patente no decorrer da Guerra-Fria.
Com a recente sofisticação e mundialização das actividades terroristas de índole fundamentalista islâmica, num processo contínuo em evolução desde a segunda metade do século XX, o poder dos actores erráticos adivinha adquirir contornos nunca observados. À medida que a capacidade de liderança e inovação da super-potência estado-unidense parece desgastar-se nos vários teatros de operações mundiais, podemos antever a continuação desta escalada de tensões e conflitos.
Sendo eu de natureza pessimista, não acredito que o Ocidente possa inverter esta escalada jihadista. Não vislumbro fórmulas milagrosas que possam combater o "terror". A margem de manobra Ocidental há muito que foi ultrapassada. Remediar talvez seja o melhor caminho, mas com certeza que o Mundo não será novamente impermeável à jihad radical, confirmando o velho adágio: “pagam os justos pelos pecadores".
Bibliografia:
Kissinger, Henry; Diplomacia; Gradiva; 2007
Dias, Carlos Manuel Mendes; Geopolítica: Teorização Clássica e Ensinamentos; Prefácio; 2005
Costa, Hélder Santos; O Martírio no Islão; ISCSP, 2004
Costa, Hélder Santos; O Revivalismo Islâmico; ISCSP, 2001
Ahmad, Akbar S.; O Islão; Bertrand; 2003
Ferreira, Pedro Antunes; O Novo Terrorismo; Prefácio; 2006
Como já referi por várias ocasiões, o Mundo Islâmico, e particularmente a região do Médio Oriente, constitui-se como o Centro do Mundo e portanto, a sua análise multidisciplinar (económica, política, social, religiosa, etc.) permitir-nos-á avaliar o nível de conflitualidade existente na comunidade internacional, funcionando como um excelente instrumento de medição do panorama global e do jogos de poder que nele se materializam.
Por conseguinte, não é com surpresa que assistimos a inúmera bibliografia relativa a esta temática, cada qual avançando com a sua própria terminologia, realçando este ou aquele aspecto, e formulando ainda modelos analíticos sistémicos, que visam apresentar um entendimento científico para um conjunto infindável de variáveis em constante mudança. Como tal, também na Geopolítica encontramos autores e ensinamentos que nos permitem entender qual a importância para o sistema mundial de potências, e como estas projectam a sua influência para estas áreas de conturbação, nomeadamente no Médio Oriente. Com efeito, será agora tempo de apresentar sumariamente os respectivos autores e concepções no que ao revivalismo islâmico médio orientista diz respeito.
Olhando para a conceptualizaçao teórica de Spykman, e em particular para o seu conceito de Rimland, composto por zonas que seriam e são de competição e conflitualidade entre as principais potências locais, regionais e mundiais, podemos desde logo constatar com natural evidência a importância que esta zona de intermediação entre o Novo e Velho Mundo possui. Estendendo-se da Europa Báltica, da Península Ibérica ao Mar Negro, Próximo e Médio Oriente, planaltos da Ásia Central, e Extremo Oriente, este autor vai classificar esta região circundante do centro continental euro-asiático, também conceptualizado por Mackinder sob a designação de Heartland, como uma zona de amortecimento ou Buffer Area. Como o próprio nome indica, estas zonas seriam zonas de confrontação e de diluição do poder das potências marítimas e continentais que forçam estes Estados a um dilema securitário derivado desta vulnerabilidade dual. Contudo, e considerando a sua natureza, seria ainda responsável pela intermediação das mesmas potências impedindo o acesso de qualquer uma ao estatuto de potência hegemónica mundial por confrontação militar total com a opositora.
Tendo em conta as palavras de Spykman: “o domínio do mundo através do domínio do Heartland está condicionado pelo controlo prévio do Rimland, dado que sem este o Heartland não possui condições para impor a sua hegemonia”, poderíamos traduzir para o contexto actual, e circunscrevendo-me à região do Médio Oriente, que se constituí como uma parte do Rimland de Spykman, e tomando em linha de conta as ideias de um outro geopolitico, Saul Cohen que a apelida de Shatterbelt, é então possível vislumbrá-la como uma zona de fragmentação, de crescente tensão e onde as discrepâncias internas juntamente, com ingerências externas, a tornam vulnerável.
Com efeito, Cohen será o autor do pensamento geopolítico mais sistematizado relativo ao Médio Oriente, pois na sua concepção global de distribuição de poder, identificando para isso duas Áreas Geoestratégicas – o Mundo Marítimo Dependente do Comércio e o Mundo Continental Euro-Asiático –, dá especial ênfase à particularidade do “centro do mundo”. Para tal, apelida-o de Shatterbelt, um espaço geográfico que apresenta características de fragmentação entre espaços económicos, políticos, religiosos e societais em confrontação directa. Enunciando simultaneamente a existência de um Shatterbelt no Sudeste Asiático, Cohen defende que estas seriam regiões de fragmentação nas quais os alinhamentos relativos às respectivas potências das duas áreas geoestratégicas reflectiriam uma extrema volatilidade, umas vezes apresentando um grupo de Estados a penderem para uma área, outras vezes pendendo para a outra. Ademais, a influência necessariamente global das potências directoras de ambas as áreas geoestratégicas reflectir-se-ia nestes Shatterbelts como fenómenos exógenos de fragmentação, procurando cada qual adquirir uma vantagem estratégica que permitisse penetrar directamente na sede do poder estratégico da outra área.
O que por vezes não fica claro é a possibilidade de qualquer potência regional emergir como potência directora, e assim contornar as dissensões que afectam conjuntamente os restantes Estados, e assegurar o futuro dos destinos dessa região. Caso uma potência directora emergisse, ultrapassando as ingerências exógenas e endógenas, teria que favorecer um de dois alinhamentos possíveis. Caso enveredasse pela maritimidade, desestabilizaria imediatamente, e porventura irremediavelmente, a balança a favor do Mundo Marítimo Dependente do Comércio. O reverso aconteceria vice-versa. Este equilíbrio instável é tendencialmente autoregulador, com vista à manutenção do status quo, como ficou patente no decorrer da Guerra-Fria.
Com a recente sofisticação e mundialização das actividades terroristas de índole fundamentalista islâmica, num processo contínuo em evolução desde a segunda metade do século XX, o poder dos actores erráticos adivinha adquirir contornos nunca observados. À medida que a capacidade de liderança e inovação da super-potência estado-unidense parece desgastar-se nos vários teatros de operações mundiais, podemos antever a continuação desta escalada de tensões e conflitos.
Sendo eu de natureza pessimista, não acredito que o Ocidente possa inverter esta escalada jihadista. Não vislumbro fórmulas milagrosas que possam combater o "terror". A margem de manobra Ocidental há muito que foi ultrapassada. Remediar talvez seja o melhor caminho, mas com certeza que o Mundo não será novamente impermeável à jihad radical, confirmando o velho adágio: “pagam os justos pelos pecadores".
Bibliografia:
Kissinger, Henry; Diplomacia; Gradiva; 2007
Dias, Carlos Manuel Mendes; Geopolítica: Teorização Clássica e Ensinamentos; Prefácio; 2005
Costa, Hélder Santos; O Martírio no Islão; ISCSP, 2004
Costa, Hélder Santos; O Revivalismo Islâmico; ISCSP, 2001
Ahmad, Akbar S.; O Islão; Bertrand; 2003
Ferreira, Pedro Antunes; O Novo Terrorismo; Prefácio; 2006
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