04 agosto, 2008

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Guerra Yom Kippur

A Guerra Yom Kippur, assim designada pelo feriado religioso do calendário do Judaísmo, foi um resultado imediato da Guerra dos Seis Dias anteriormente explanada. Conforme decorreu dos acordos de paz que levaram à delimitação das fronteiras de 1967. Importa ainda referir que Yom Kippur, ou o Dia do Perdão no Judaísmo, é, na sua vertente sócio-religiosa, uma celebração de purgação do corpo em prol da alma, durante o qual os crentes abstém-se de comer, banharem-se, praticar relações sexuais, ou utilizarem qualquer tipo de adorno corporal (i.e. cremes, loções, perfume, etc.) como forma de atribuir à alma a atenção devida ao seu rejuvenescimento e unicidade.

As hostilidades começaram quando uma coligação entre o Egipto e a Síria avançaram sobre a fronteira do Sinai e nos Montes Golan, onde as tropas Israelitas tinham construído os seus postos avançados depois da guerra anterior. No dia 6 de Outubro de 1973, um ataque surpresa por parte desta coligação apanhou a comunidade israelita de surpresa enquanto celebravam o seu Yom Kippur, causando uma momentânea fragilidade nas defesas de Jerusalém. No entanto, após uma semana de conflitos, as tropas israelitas, com um elevado grau de treino e disciplina, e tecnologia militar de ponta à sua disposição, conseguiram expulsar o inimigo Sírio a Norte, nos Golan, e forçá-los a retroceder novamente para além das fronteiras. Simultaneamente, na frente a Sul, uma divisão de artilharia rompia a ofensiva egípcia, ao género de blitzkrieg. Após forçarem numa primeira fase as tropas Israelitas à rendição, nas desérticas planícies do Sinai, esta contra-ofensiva inesperada faz recuar os exércitos egípcios até ao Canal do Suez, até onde os Israelitas tinham avançado, até finalmente se verificar um efectivo cessar-fogo promovido pelas Nações Unidas.

Para além das perdas humanas, que rondaram os 8.500 mortos do lado Egípcio e Sírio, em comparação com 2.300 Israelitas, uma das mais gravosas consequências foi a Crise Petrolífera que se abateu sobre os mercados mundiais. Com o apoio declarado dos EUA e Ocidente à causa israelita, pois as inúmeras ligações do Egipto à URSS tornavam as estimativas favoráveis à causa árabe e subsequente destruição do Estado de Israel, a OPEP tomou a iniciativa de reduzir a produção de barris de petróleo, assim inflaccionando todo o mercado petrolífero, chegando inclusivamente a falhar a oferta para toda a procura. Com o abrandamento e profunda destabilização das economias ocidentais, punha-se a nú a vulnerabilidade com que as chamadas economias livres dependiam as economias árabes produtoras de petróleo. Organizadas em organização internacional, a Guerra Yom Kippur foi pois um momento de importante definição das regras do jogo em que a Guerra-Fria assentava.

Ademais, com o armistício celebrado entre Israel e o Egipto, os aclamados Acordos de Camp David, este tornava-se o primeiro país islâmico a reconhecer de facto e de jure a existência do Estado de Israel, numa clara lógica de distanciamento do pan-arabismo de Nasser e do marxismo da URSS.


Acordos de Paz após a Guerra de Yom Kippur.

A onze de Novembro de 1973 foi assinado entre o Egipto e Israel um acordo de paz, denominado de “Acordo km101” por ter sido celebrado em plena estrada Suez-Cairo no km 101. Este acordo permitiu a realização em Genebra em Dezembro do mesmo ano, de uma Conferência de Paz para o Médio Oriente promovida pela ONU e que contou com Israel e vários países árabes como o Egipto, a Jordânia e a Síria. Os assuntos prioritários seleccionados pelos participantes para serem discutidos seriam as retiradas dos territórios sírio e egípcio. A participação dos Estados Unidos havia sido requerida pelo Egipto e pela Síria que, no momento, acreditavam que a influência americana sobre Israel trazer-lhes-ia vantagens. Os sírios não participaram da primeira
sessão de negociações porque só iriam para a conferência depois que os israelitas se retirassem dos territórios ocupados durante a guerra.

Em Janeiro de 1974, enquanto a conferência de Genebra não mostrava resultados muito positivos, Kissinger lançou-se de novo na diplomacia de ponte aérea (designação pela qual ficcu conhecida o seu esforço na mediação destes acordos) entre Israel e o Egipto para tentar conseguir a assinatura de um novo acordo.

Apesar das divergências entre as partes serem consideráveis, e do facto de Israel passar por um processo de eleições, o secretário de Estado acreditava no sucesso da mediação.
O segundo acordo do km 101 foi então assinado a dezoito de Janeiro de 1974, de forma difícil entre as partes envolvidas e onde se acordou a retirada das forças militares israelitas para uma distância de trinta km para este do Canal do Suez. No decurso dos quarenta e dois dias à celebração do acordo, assistiu-se à criação de uma zona de dez km entre as forças israelitas e egípcias, que posteriormente viria a ser ocupada por uma força de manutenção da paz da ONU. O mesmo acordo contempla a redução do corpo militar egípcio estacionado a este do Suez, de modo a permitir a reabertura do canal à navegação externa.

Ou seja, o Egipto recua para a posição anterior ao início da guerra. Com a Síria, as negociações são feitas através da mediação dos Estados Unidos, representados pelo seu secretário de Estado já mencionado, Kissinger, em destaque como mediador das negociações. Também neste caso, chega-se a um acordo de recuo mútuo das tropas. No Sinai, são estacionadas novamente tropas da ONU. Às colinas de Golã, é enviada a tropa UNDOF, das Nações Unidas, com observadores do cumprimento do acordo.

Tendo como modelo o acordo de retirada com o Egipto, Kissinger engajou-se em conversações com os sírios esperando também conseguir que eles assinassem um acordo com os israelitas. Como os países árabes produtores de petróleo queriam que os Estados Unidos conseguissem também um acordo sírio-israelita, Kissinger colocou a retirada do embargo como condição para actuar novamente como mediador. Havia um número menor de territórios a serem negociados e os Golã tinham uma importância estratégica bem maior do que o Sinai por estar próximo de colonatos israelitas muito povoadas. Kissinger pretendia fazer com que a Síria devolvesse os prisioneiros de guerra israelitas, assim como o Egipto havia feito, em troca da retirada nos Golã. Mas, logo de início as negociações chegaram a um impasse com a recusa dos dois lados em fazer concessões. Kissinger precisou ganhar mais tempo para agir porque o fracasso dessa mediação implicaria na permanência do embargo. Representantes de Israel e da Síria deslocaram-se então a Washington para negociar, Kissinger convenceu a Arábia Saudita e a Jordânia de que as negociações lá poderiam ser mais frutíferas e que desse modo os dois países não precisariam mais manter o embargo.

Porém as negociações nos Estados Unidos não andaram tão bem como Kissinger previa. Os israelitas mais uma vez propuseram um plano que jamais seria aceite pela outra parte. Os sírios não se deixavam influenciar tão facilmente como os egípcios. Ao perceber que o impasse já durava há muito tempo e que as duas partes não cediam só através da persuasão, Kissinger resolveu ameaçá-las com o uso de sanções. Acreditando nas ameaças do secretário de que não conseguiriam sair do impasse de outra forma que não fosse a guerra, os dois países aceitaram fazer as concessões necessárias para o acordo planejado pelos americanos e o assinaram em 31 de Maio durante a Conferência de Genebra. Com o acordo43 os israelitas retiraram-se dos Golã de uma distância pouco atrás das linhas que ocuparam na guerra de Outubro de 1973.

Sem comentários: