Como seria previsível, o Reino Unido absteve-me em 1945, e finda a II Guerra Mundial, de continuar uma administração mandatada para o território da Palestina, não só pelo crescente nacionalismo e violência que a facção palestiniana exibia, como pelo desagrado da facção sionista com o governo britânico, pois abstinha-se de dar continuação aos projectos por si anunciados anteriormente. Embora o mandato não cessasse imediatamente, a governação no terreno diminuía a passos largos à medida que mais imigrantes judeus tomavam a Palestina como a sua nova pátria, enquanto que as comunidades palestinianas, desorganizadas a todos os níveis, limitavam-se a reagir à vaga demográfica que lhes invadia o território.
A missão das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP) que tinha por objectivo supervisionar as condições locais no âmbito da possível retirada britânica, abordando simultaneamente judeus e palestinianos era, como a própria organização, um pólo de discordância e inércia que poucos ou nenhuns meios, técnicos e humanos, tinha para estabelecer uma verdadeira missão de observação e apresentar-se como uma autoridade legítima para angariar interesses e negociações. Como refere Ilan Pappe: “A UNSCOP levou nove meses, de Fevereiro a Novembro de 1947, a tomar uma decisão sobre o destino do país. Os competentes e bem preparados representantes sionistas tinham-lhes apresentado um programa de partição já pronto, enquanto o lado palestiniano e árabe não apresentara qualquer alternativa coerente.”
Com efeito, no dia 29 de Novembro de 1947 foi apresentado na Assembleia Geral das Nações Unidas a decisão do UNSCOP acerca do destino político a dar ao futuro da Palestina. O chamado Plano de Partição de 1947 delimitava propostas para a formação de dois Estados independentes, em que o Estado de Israel estender-se-ia do Negev, a maior parte da zona costeira e a Galileia Ocidental, enquanto que o Estado Árabe proposto ficaria com o território remanescente. Ademais, a cidade-santa de Jerusalém ficaria ainda sob administração internacional a supervisionar por um contingente das Nações Unidas, o qual seria deliberado numa ocasião futura.
Contudo, a recém criada organização falhava em atingir o consenso. Entre a própria sociedade judaica, facções emergiam acerca da melhor resolução para o problema, em que uns apoiavam e negociavam com os palestinianos formas alternativas de organizar o território – criando uma união monetária entre dois Estados diferentes, uma federação ou até uma confederação -, e outros que defendiam o afastamento à força de todos os palestinianos insubmissos. O que era certo era que várias campanhas já se organizavam face à previsibilidade de um conflito espoletar entre os sionistas e os árabes, possivelmente chefiados pelo rei Abdullah da Jordânia, anteriormente a Março de 1948 conhecida por Transjordânia, e com a mobilização de toda a Liga Árabe. Desde o aumento dos impostos para aquisição de armamento, protocolos de celebração com os norte-americanos para o abastecimento em matérias-primas e tecnologias militares de ponta, até a campanhas de recrutamento de indivíduos para os serviços de informações e forças armadas regulares.
O abandono das tropas britânicas
No dia 15 de Maio de 1948, o último soldado britânico embarcava juntamente com o último contingente de forças de Sua Majestade. No anterior, a 14 de Maio, assistimos ainda à declaração unilateral de independência por parte de Israel, avançando definitivamente para o seu projecto independente, marginal às resoluções das Nações Unidas para o efeito. Novamente, as massas populacionais, organização política, económica e administrativa, mais o apoio militar dos EUA e complacência internacional das duas superpotências, aliada à incapacidade britânica de conter um facto inadiável, foram factores determinantes que suplantaram a mera acção por reacção dos palestinianos e árabes. Ademais, uma limpeza étnica que decorria desde Março arreigara os palestinianos das suas terras e outras posses, colocando obstáculos virtualmente inultrapassáveis a uma comunidade parcamente organizada. Como era óbvio, as atenções de Israel focalizam-se necessariamente na resposta da comunidade internacional onde os palestinianos poderiam arregimentar algum apoio.
No entanto, o cenário também aí era favorável a Israel. Com um acordo territorial obtido com o Rei Abdullah, o Leste da Palestina era entregue à Jordânia, com o contraponto de participar reduzidamente na Legião Hachemita em construção, que seria num futuro breve lançada contra os intentos Israelitas a soldo da Liga Árabe. A estes juntavam-se os soldados do Exército de Salvação Árabe, também co-patrocinada pela Liga Árabe, e a Legião Árabe, de igual pressuposto.
Esta militarização crescente do povo palestiniano, resposta expectável face aos desenvolvimentos que a facção sionista incutia no decorrer do processo, foi responsável por uma emigração inicial de 70.000 palestinianos, pertencentes sobretudo às elites locais, que abandonavam o território com receio do começo das hostilidades, isto no período entre Setembro de 1947 e Março de 1948. Os planos destas legiões de combatentes, com especial ênfase para a facção hachemita, era o de ganhar o máximo de território possível não só para a Jordânia mas também para as forças da Liga Árabe, sem com isso existir um claro plano de substituição do poder político deixado vazio pelo Reino Unido e conquistado a Israel. Importa também referir que estas várias facções, embora sob alguma forma de influência da Liga Árabe, comungava com elas os seus pecados, isto é, não existia uma clara hierarquia de elites nem de directivas que animassem os eventuais confrontos numa única direcção congruente e que apresentasse uma clara oposição e alternativa ao domínio israelita, e os conflitos intra-faccionários abundavam no próprio seio árabe.
O Partido Trabalhista de David Ben-Gurion, a quem faremos a devida alusão num próximo capítulo, tratou então de aplicar o célebre Plano D, a táctica que seria empregue para consumar a independência israelita. Numa análise muito sucinta, o Plano D consistia num conjunto de medidas bi-fásica que envolviam a ocupação e afastamento dos palestinianos. A primeira fase, a da ocupação, visava a ocupação de todos os serviços, sedes, bases e demais instalações deixadas pelos britânicos, pois constituíam os fundamentos do controlo político-administrativo sobre o território. Por simpatia ideológica com a facção sionista, muitos oficiais de governo britânicos contribuíram ainda para a transmissão de conhecimento estratégico sobre o funcionamento do sistema e seus pontos nevrálgicos, como aldeias, estradas, recursos naturais, etc., que aceleraram o processo de ocupação interna. Assim sendo, à Hagana – ou A Defesa -, foram atribuídos objectivos político-militares de conquista e destruição de aldeias para efectivar o domínio israelita sobre o vazio de poder britânico.
Numa segunda fase, o afastamento dos palestinianos demonstrou o vingar da facção intra-sionista que defendia a adopção de medidas mais drásticas para a consagração do Estado de Israel como uma unidade política de pleno direito, a despeito da posição árabe e palestiniana. Esta viria a ser, aliás, uma posição defendida ao longo da história de Israel, pois diversas vicissitudes clamariam por uma afirmação de força capaz de afastar toda e qualquer contestação à existência do Estado de Israel, como veremos no decorrer deste trabalho.
Como seria previsível, com a declaração de independência e o abandono das tropas britânicas, começa a Guerra da Independência.
David Ben-Gurion
Ben-Gurion nasceu em 1886 na Polónia, na altura parte do Império Russo, e foi o primeiro chefe do governo de Israel. Recebe desde muito jovem a influência das ideias sionistas e socialistas que influenciarão todo o seu percurso político. Ben-Gurion foi líder do movimento sionismo socialista e um dos fundadores do Partido Trabalhista que esteve no poder em Israel ao longo das primeiras três décadas do Estado hebreu.
Foi viver para a Palestina em 1906 para fugir ao anti-semitismo exacerbado que assolava o Leste Europeu. Devido ás suas actividades políticas foi expulso da Palestina, então sob domínio do Império Otomano, corria o ano de 1995. Foi então viver para Nova York regressando á Palestina depois da I Grande Guerra., instalando-se em Telavive.Ben-Gurion foi um dos líderes políticos do movimento Sionismo Trabalhista que havia se tornado na principal tendência dentro da Organização Sionista Mundial.
Durante o período em que as autoridades britânicas exerciam o seu mandato na Palestina, Ben-Gurion ajudou no processo de imigração ilegal de milhares de refugiados judeus europeus para este território. É igualmente considerado o arquitecto da Hagana, a força paramilitar do movimento trabalhista sionista que facilitava a imigração clandestina, e defendia os aglomerados judaicos contra as forças dos árabes. O núcleo duro dessa força, após a independência, passou a constituir o gérmen do exército israelita. Estes factos e os constantes choques de posições, levaram os apoiantes do sionismo a forçarem os britânicos a colocarem um ponto final no seu Mandato da SDN.
Durante o período pré-estado hebreu, os britânicos negociaram frequentemente com a Hagana, e em 14 de Mão de 1948, Ben-Gurion lê, de forma solene, a Declaração de Independência de Israel na cidade de Telavive. Este homem que tão importante foi para a criação de Israel foi o seu líder durante a Guerra da Independência e tornou-se o seu Primiro-Ministro a 25 de Janeiro de 1948, ocupando este cargo até 1963, com uma interrupção entre 1953 e 1955.
Durante a Guerra do Sinai de 1956, na qual Israel atacou a Península do Sinai em retaliação pelos raides por parte do Egipto, Israel fê-lo m colaboração com a Grã-Bretanha e a França que pretendiam assegurar o controlo do Canal do Suez.
Em 1965, cria um grupo de dissidentes em relação ao sistema que ele próprio fez nascer e dois anos depois retira-se da vida política por se encontrar cansado de lutar contra o marasmo no qual o sistema israelita se encontrava.
04 agosto, 2008
O Conflito Israelo-Palestiniano - A Fundação do Estado de Israel
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