04 agosto, 2008

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Guerra do Líbano

A Guerra do Líbano, também entendida como a Quinta Guerra Israelo-Árabe, tem as suas origens imediatas no ano de 1982, e surge, como vem a ser patente desde o Conflito do Suez, pela busca por parte de Jerusalém de construir um espaço desmilitarizado onde expandir a sua zona de segurança aos territórios vizinhos. Com efeito, desde Yom Kippur, o Negev e a Jordânia encontram-se relativamente estabilizados e sem grandes possibilidades de, através desses territórios, chegarem tropas inimigas que coloquem novamente em perigo a existência de Israel.

Desta forma, a Síria representa o único e último grande opositor à existência de Israel, que recebe milhares de palestinianos, usualmente aqueles mais militantes, para encetar as suas próprias campanhas de baixa intensidade que levariam ao desgaste do aparelho governativo e militar Israelita e sua descredibilização junto da sociedade internacional. Albergando as próprias elites da OLP no vizinho Líbano, que a partir de Beirute e com um apoio do Irão desde a sua Revolução Islâmica de 1979, exportam para o Sul da Síria e do Líbano algumas ofensivas militares utilizando rockets e outro equipamento tecnologicamente menos avançado. Por conseguinte, o Líbano, antigo território dual juntamente com o Egipto, assim fechando a cúpula da aliança anti-judaica que iniciou guerras anteriores, o Líbano é o ponto de confluência de algumas influências árabes que, à semelhança da Síria, aí desenvolvem planos subversivos.

Desta forma, Israel responde como o fez com a Guerra dos Seis Dias- iniciou um ataque aéreo pré-emptivo direccionado à capital Beirute com vista a pressionar o governo a exilar incondicionalmente todas as milícias da OLP aí estacionadas. Com o apoio de maciços ataques aéreos a pontos da economia e sociedade Libanesa chave, com eventuais casualidades civis, em Junho de 1982, a primeira investida terrestre só teria efeito em Setembro do mesmo ano, com o avanço de milícias cristãs que se opunham às facções mais extremistas e pró-OLP como o Hezbollah. Com a morte do Presidente Bachir Gemayel, é então que Israel dá a luz verde e apoio logístico às milícias para realizarem um golpe de Estado que lhes fosse favorável e que eliminasse de vez a influência Síria no país.

No entanto, a resistência aí encontrada ultrapassa as primeiras expectativas. A oposição, fortemente apoiada por Damasco, consegue expulsar os Israelitas da fronteira a Sul poucas semanas depois, e nem a entrada dos EUA no conflito, no Outono de 1982, inverter a situação. Com uma redução dos níveis de conflitualidade, estes acabam finalmente por abandonar Israel em Fevereiro de 1984, dando por encerrado o primeiro turno de hostilidades.

Apesar de tudo, a oposição continuaria forte entre Israelitas e Sírios, com estes a tomarem a mó de cima ao apoiarem os dois principais partidos de contestação ao partido pró-Israel – a Falange -, com os partidos Amal e Milícia Drusa. Com várias nuances que não caberiam aqui exaurir, é comummente aceite o efectivo cessar-fogo com o cumprimento por parte de Israel da Resolução 425 da Assembleia Geral da ONU que impelia Jerusalém a recuar as suas tropas para uma faixa de segurança de 15km a Sul do Líbano. Entretanto começara a I Intifada.


O apoio norte-americano

No entanto, quando se fala da ajuda para equipamento militar que os EUA lhe prestam estamos a falar de dinheiro que, na sua maioria só pode ser usado para fazer pesquisa nos EUA ou para comprar armamento americano. Os EUA concordaram que Israel use 26% destes fundos para comprar equipamento militar produzido no seu próprio país. Isto permitiu que o Pais desenvolvesse sofisticadas empresas de produção de armamento, o que coloca Israel no ranking dos “top ten” dos exportadores de armas (75% do armamento produzido em Israel é exportado).
É importante referir que a ajuda americana representa 20% do orçamento israelita para a defesa.
Em 1998, devido à rápida industrialização e crescimento económico do Estado hebreu, os seus dirigentes negociaram com os EUA uma redução do auxílio económico em troca de um aumento da ajuda destinada a fins militares. Assim, propuseram aos EUA que fossem progressivamente reduzindo os 1.2 biliões de ajuda destinada a promover o crescimento económico, em troca de um gradual aumento dos 1.8 biliões de dólares em ajuda para fins militares. Na prática, isto traduziu-se num aumento da ajuda para fins militares de 60 milhões de dólares. No mesmo ano os Estados Unidos designaram Israel como “principal aliado fora da NATO”, o que o qualifica para receber “Excess Defense Articles” (EDA). Isto refere-se à venda a custos reduzidos, ou mesmo à “doação” de equipamento militar americano desactualizado a “Estados Amigos”.

Também no que diz respeito à defesa anti-míssil, o Congresso americano tem demonstrado vontade de colaborar com Israel e ao longo dos últimos anos têm sido desenvolvidas de forma conjunta diversos sistemas contra vários tipos de ameaças: desde mísseis de curto alcance lançados por grupos não-estatais, tais como o Hamas e o Hezbollah, até mísseis de longo alcance que possam vir a ser lançados a partir da Síria ou do Irão. Assim, os programas de defesa anti-míssil israelita, desenvolvidos em colaboração com os EUA são “a Funda de David” (David’s Sling) um sistema de médio longo alcance; “Arrow I” e “Arrow II”.

Em Outubro de 2007 os EUA concordaram em considerar a proposta israelita para desenvolverem de forma conjunta o “Arrow III”, cujo objectivo seria proteger o território israelita de ogivas nucleares.

Adicionalmente, Israel tem o seu próprio programa, apelidado de “Cúpula de Ferro”, um sistema de curto alcance que visa interceptar mísseis de construção mais rudimentar lançados a partir da Faixa de Gaza.
Para além de toda a cooperação militar, é de realçar o apoio económico que os EUA lhe dão desde o início de 1973 para o realojamento de “migrantes por razões humanitárias”, ou seja refugiados. Só que em Israel não se faz grande distinção entre “migrantes” e “migrantes por razões humanitárias, logo estes fundos são usados para apoiar a generalidade dos migrantes. Estes fundos podem cobrir os custos da viagem até Israel, cursos de hebreu, habitação temporária, escolarização, etc. Entre 1973 e 1991 os EUA concederam cerca de 400 milhões de dólares ao abrigo deste programa, como exposto no quadro abaixo referente a doação de verbas em anos mais recentes.

Fundos para a Assistência a Refugiados e Migrantes
2000: $60 million
2001: $60 million
2003: $60 million
2004: $59.6 million
2005: $49.7 million
2006: $50 million
2007:$40 million
2008:$40 million
Fonte: US. State Department


O apoio soviético

Depois de vários falsos começos, em 1985 e 1986, as relações entre a URSS e Israel começaram a melhorar em 1987 aquando do envio de uma delegação soviética a território israelita. O estão Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Shimon Peres, reunia-se frequentemente com altos funcionários soviéticos e o próprio presidente da URSS, Mikhail Gorbachev, lançou um aviso público ao presidente da Síria, Hafiz al-Asad, para que o seu país resolvesse as suas divergências com Israel através de meios políticos e não através de meios militares. Apesar do despoletar da Intifada em 1987, as relações entre os dois países aprofundaram-se nos seguintes anos de 1988 e 1989. Quando uma delegação israelita foi enviada à URSS, Gorbachev expressou-se publicamente sobre o conflito em curso no Médio Oriente, dirigindo as suas palavras ao líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, ao afirmar que os interesses israelitas deveriam ser tomados em conta em qualquer tipo de tentativa de estabelecimento de paz na região.

Em relação à emigração para Israel, pode-se estipular que o número de judeus soviéticos autorizados a deixar a URSS foi de cerca de 1965 em 1988. No seguimento desta lenta mas constante aproximação, as relações entre ambos os países aprofundaram-se ainda mais através de contactos culturais e atléticos. Contudo, as visões não eram comuns em todos as temáticas em causa – as perspectivas de cada um referentes ao processo de paz que deveria ser seguido no Médio Oriente eram bastante divergentes entre israelitas e soviéticos. A título de exemplo cita-se a reacção desfavorável por parte da URSS a uma proposta de paz do então Primeiro-Ministro israelita Yitzhak Shamir e as vozes críticas de Israel à venda de aviões militares SU-24 por parte dos soviéticos à Líbia.

Não deixa de ser pertinente relembrar que as próprias repúblicas soviéticas tiveram a sua importância neste jogo de aproximação bilateral URSS-Israel. Algumas repúblicas soviéticas, especialmente da região do Báltico e do Transcaucaso demonstravam crescente autonomia ao buscarem benefícios comerciais por si mesmo com outros países, especificamente com Israel. Deste modo, o governo central de Moscovo procedeu ao reatamento das relações económicas com os israelitas, nomeadamente com a venda de produtos agrícolas provenientes de Israel – através do Large Scale Agreement (1989) – e a assinatura do Chamber of Comerce Agreement (1990). Não obstante esta gradual aproximação, na realidade as relações diplomáticas oficiais apenas foram restituídas em 1991, quando a União Soviética já dado o último passo em direcção ao colapso final.

Conclusivamente podemos, assim, sistematizar quatro factores que contribuíram para o melhoramento das relações bilaterais entre Israel e a URSS: i) políticas do Médio Oriente; ii) relações EUA-URSS; iii) interesse soviético em expandir o comércio; opinião pública soviética.

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